Friday, March 17, 2006

Herberto Helder,ULTIMA CIENCIA


De Herberto Helder se pode dizer que "todos os seus passos" são dados em torno de uma matéria poética e alquímica, porque profundamente transmutada.Nele a palavra faz-se texto e pretexto , adquire espessura material: mineral, vegetal, animal não fugindo ao desmembrar dos corpos de que extrai todo o sangue de vida que contenham.
O AMOR EM VISITA (1958) vem ao longo dos anos culminar em ÚLTIMA CIENCIA ( 1988 ) , obra- prima a que nenhum adepto da alquimia do Verbo deixará de prestar homenagem.

"Com uma rosa no fundo da cabeça,que maneira obscura
de morte.O perfume a sangue à volta da camisa
fria, a boca cheia de ar, a memória
ecoando com as vozes
de agora.
....Uma criança
luciferina."

Já aqui se encontraria um tratado : da Pedra como Vida, da Vida como Criança Eterna, a dos mitos antigos, a que acompanha como Eros a produção da Arte mais subtil.

" Se olhas a serpente nos olhos,sentes como a inocência
é insondável e o terror é um arrepio
lírico. Sabes tudo.
A constelação de corolas está madura contra o granito alto
nas voragens.Rosaceamente.
A tua vida entra em si mesma até ao centro.
Podes fechar os olhos, podes ouvir o que disseste
atrás das vozes
do poema."

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