Tuesday, November 17, 2009

Faouzi Skali, editado por João Tinoco


João Tinoco continua a sua bela obra de edição de autores que merecem ser conhecidos entre nós, como é o caso de Faouzi Skali: nascido em Fez, Marrocos, Doutor em Ciência das Religiões, fundou em 1994 o Festival de Fez de Músicas Sagradas do Mundo e em 2001 cria os Colóquios Internacionais "Uma Alma para a Mundialização". Em 2007 dá início ao "Festival da Cultura Sufi", que se mantém regularmente. Faz ainda parte do Grupo de Sábios nomeado pela União Europeia para uma reflexão sobre o "Diálogo entre os Povos e as Culturas no Espaço Euromediterrânico".
Sendo Faouzi ele próprio um Sufi, quem melhor do que ele para nos falar de Jesus na Tradição Sufi - título desta obra editada por João Tinoco, fiel à sua vocação de criador contemplativo.
A obra é importante, num momento em que alguns tanto desejam separar a inspiração das religiões do LIVRO. A doutrina Sufi não separa, antes une - pois os místicos sempre se encontram no íntimo dos seus corações, onde a Divindade e a sua palavra mágica de transformação se revela.
Henry Corbin foi um dos grandes Mestres que ajudou a entender a doutrina Sufi, as suas raizes, a inspiração cristalizada na obra de Ibn' Arabi ( 1165-1240). Uma das obras que mais gostei de ler: L'Imagination Créatrice dans le Soufisme d'Ibn'Arabi. Mas é vasta a sua bibliografia, pouco acessível entre nós, e agora temos este livro-companheiro para uma melhor compreensão de um dos grandes pilares da mística iraniana, organizado em torno da figura central de um Jesus feito de compaixão e amor.
Deixo uma ideia ao João Tinoco: a tradução para português do Chant de l'Ardent Désir de Ibn'Arabi, na selecção francesa de Sami-Ali (ed. Sindbad, Actes Sud, 1989). Quem sabe se ainda nos aproxima mais do Cântico dos Cânticos, ou do Libro de Amigo Y Amado, obra-prima de Ramon Lull (c.1232-1315) mostrando como era grande, ao tempo, o convívio de múltiplas linguagens místicas - tal como hoje se deseja, alargando o seu espaço às múltiplas linguagens seculares. É só um o coração do Universo, num só eterno pulsar.

Saturday, November 14, 2009

Labirintos


A obra de sublimação é uma queste, como a dos antigos cavaleiros do Graal e a aventura dessa busca pode ser representada como o caminhar pelos circulos de um labirinto, o labirinto da vida, o labirinto do mundo.
A gravura reza o seguinte:
"Não se atinge o Uno com um salto; e tampouco sem andar às voltas"

Alquimia e Misticismo


Houve um tempo em que estudar ou aludir a estas matérias herméticas não era bem visto. Não se considerava que fossem dignas de estudo.
Jung foi pioneiro na defesa da importância do discurso alquímico como discurso arquetípico, matricial, de uma consciência ou de um imaginário colectivo em que se desvendava o permanente pulsar do Universo criado e da sua Manifestação.
No fundo, a experiência alquímica era uma experiência da alma em transformação, uma experiência mística, daí o discurso ser a-lógico, intuitivo, mais facilmente expresso por imagens do que por elaborados raciocínios.
Os raciocínios, quando existiam, e a dada altura existiram com alguma abundância (no século XVIII e seguintes) serviam mais para perder o fio de Ariadne do que para o encontrar, e inclusivé punham a descoberto a dificuldade do próprio, adepto ou apenas curioso, se entender a si mesmo e ao que pretendia dizer.
O discurso alquímico é mais para ver do que outra coisa, é mais para ser assimilado como revelação, a ser ou não posteriormente transmitida.
Vem isto a propósito de uma pequena edição da Taschen, que no New York Times Book Review é apreciada nestes termos:
" ...a fast food, high-energy fix on the topic at hand".
Trata-se de facto de um pequeno guia, um pequeno dicionário de imagens alquímicas, com os comentários necessários para que o leitor fique esclarecido sobre a evolução dessa arte, dessa filosofia de iniciação cristalizada desde os tempos mais antigos e de que modernamente a Maçonaria, nos seus rituais, também se constituiu herdeira.
Se é certo que a doutrina dos 4 elementos remonta a Empédocles, que os define como " as quatro raizes de todas as coisas" não é menos certo que a terra, a água, o fogo e o ar (suas oposições, conjunções, transformações) continuaram ao longo dos tempos a habitar o imaginário colectivo de múltiplas culturas, a Oriente e a Ocidente.
Aristóteles afina estes conceito, como nos diz Alexander Roob na introdução, cunhando a ideia de uma prima materia comum a todos os elementos, e será esta hyle ou matéria primeira que mais interessará os alquimistas, que a definem como o seu "caos", a sua matéria negra", entre várias outras designações, - desde que apontem para algo de informe, indefinido, carecendo de sublimação.
Na sublimação dessa matéria consistirá a Obra, a Magnum Opus.