Saturday, December 16, 2006

Fogo e Agua



A imagem representa a união dos opostos; trata-se de uma representação indiana da conjunção do fogo e da água, tendo as figuras quatro mãos cada uma, mais um sinal da quaternidade perfeita.

A chama sobre o lago:
fogo e água.

Friday, December 15, 2006

George Ripley



Na Inglaterra do século XVI o pensamento hermético floresceu de modo intenso e livre, talvez porque os sucessos e atribulações do reino no tempo de Isabel I despertassem na rainha como nos seus súbditos uma curiosidade maior sobre os seus destinos e os destinos do mundo.
John Dee fora astrólogo real, para além das suas muitas outras qualificações.
George Ripley foi de igual modo influente, no pensamento como na acção, não se coibindo de descrever em pormenor o elixir de longa vida cujo segredo lhe foi revelado numa visão que descreve.
A obra que apresento aqui recupera a edição de 1591, para a tradução francesa, com introdução e notas de Bernard BIEBEL,ed. GUY TRÉDANIEL, 1992.
Contém as DOZE PORTAS DA ALQUIMIA, A VISÂO DO CAVALEIRO GEORGE e o TRATADO DO MERCÚRIO.
Na VIsão conta como um sapo se transforma diante dos seus olhos passando o seu corpo pelas três fases indicativas da obra: a nigredo, a cauda pavonis, a albedo e por fim a rubedo, côr que se fixa não se alterando mais; a partir daí, diz Ripley, preparou a sua Medicina, "que mata e que cura o que se arrisca a tomá-la".

Frances Yates, em THE OCCULT PHILOSOPHY IN THE ELIZABETHAN AGE (impres. digital 2006 ) chama a atenção para a herança medieval ( com LULL) e renascentista com Pico della Mirandola nesta paixão pelas matérias ocultas que se verifica na Inglaterra do século XVI. John Dee, o mago da corte será a figura mais marcante, mas Ripley é outro dos autores a salientar.
A marca do imaginário hermético pode encontrar-se em Shakespeare, no seu Próspero ( The Tempest ) ;
o gosto ( ou o medo) de feitiços e bruxas também é testemunhado no dramaturgo, e Yates dedica um capítulo do seu livro precisamente a " Shakespearean Fairies, Witches, Melancholy: King Lear and the Demons".
Os pactos com o diabo ou suas feiticeiras são conhecidos desde as aventuras de Fausto, de que Marlowe se ocupará;
os alquimistas serão tema da comédia paródica de Ben Jonson ( The Alchemist );
e em Spenser (The Faerie Queene ) Frances Yates encontra também a simbólica hermética neo-platónica de que Shakespeare e outros davam testemunho.
Na Europa vivia-se igual momento.Não é por acaso que Duerer grava a sua Melancolia 1 (1514 ), e Lucas Cranach pinta a sua bruxa melancólica ( 1528 ).
No quadro de Cranach vemos a jovem bruxa sentada a olhar para 4 crianças ( os quatro elementos ) no chão a brincar com um cão (sendo que o cão é o "fiel companheiro" da obra).

Dr. Dee


THE HIEROGLYPHIC MONAD.
Apresentação de Diane di Prima, expondo o que define como "memória criativa", tradução do latim e Introdução de J.W.Hamilton-Jones que considera John Dee e Edward Kelly, seu colaborador, como profundos conhecedores da ciência hermética. Na biblioteca de Dee encontravam-se obras de Roger Bacon, Alberto Magno, Arnaldo de Villa Nova, Avicenna entre outras, fazendo jus ao seu saber filosófico e alquímico.
A Monada transmite uma locubração matemática que permite igualmente uma meditação de carácter filosófico e hermético, sobre as transformações da materia prima . Escrita em treze dias, foi começada em Antuérpia a 13 de Janeiro de 1564 e terminada no dia 25 do mesmo mês.
Teve fama imediata e várias edições. O título da edição de Frankfurt, traduzido, reza assim :
" A Monada explicada hieroglifica- matematica- magica- cabalistica e anagogicamente". Ou seja, contendo nessa imagem da recta, do ponto e do circulo a possibilidade do entendimento do mistério do universo e do homem.
Bons cálculos e boa meditação aos amantes da arte.
Recordando a legenda do frontispício: " quem não percebe deve aprender ou calar-se ".

Tuesday, December 05, 2006

Alquimia e Misticismo




O alquimista.
Notre-Dame-de-Paris.

A Alquimia.
Baixo -relevo do grande pórtico de Notre-Dame-de-Paris.
Hierática, a figura sentada numa cadeira que a mandorla circular protege tem numa das mãos os livros da sabedoria, na outra o ceptro e apoiada no seu peito a escada que, tal como a escada de Jacob, permitirá chegar à esfera do conhecimento divino.

Ver Fulcanelli, Le Mystère des Cathédrales, Paris 1964
G.J.Witkowski, L'Art Profane à l'Église, Paris, 1908

Monday, December 04, 2006

The Art of Memory



O Silêncio Hermético.
Achilles Bocchius, Symbolicarum quaestionum...libri quinque, Bologna 1555.
Reproduzido em Frances Yates, THE ART OF MEMORY:
" The aim of the memory system is to establish within, in the psyche, the return of the intellect to unity through the organization of significant images".

( cap.9, Giordano Bruno, The Secret of Shadows )

Interessante será recuperar, para esta mesma ideia, a imagem do Anjo de Portugal com o mesmo gesto do silêncio, no Convento de Cristo de Tomar.

Sunday, December 03, 2006

Fortuna


Fortuna ( Tyche among the Greeks ) is "Chance deified and personified in a feminine deity. She was represented with the horn of plenty with a helm, because she is the one that 'steers' man's life, sometimes sitting, sometimes standing, almost always blind".
(Pierre Grimal)

Pequena estátua da Fortuna, do séc.1 d.C. encontrada em Torres Novas, Santarém.

Pode ser vista na exposição das Religiões da Lusitânia , nos Jerónimos.
A não perder.

Saturday, December 02, 2006

Cruzeiro Seixas


Cantemos os poetas enquanto estão vivos, ler os seus versos é como ver-nos ao espelho !


" Ali mesmo paredes meias com o fogo
estava talvez eu
olhando o tecto como se olha um prado
com rapidíssimos malmequeres descendo a abismos profundísimos
onde incessante murmurava uma fonte de trevas
de sangue de horror
verde-bronze.

Olho-me em função do que vejo nos outros
quero dizer
que os outros são o meu espelho.
Sou por compensação e por reacção
e assim espelho de feira
o desequilíbrio cósmico
não me é dado.

A minha problemática parte daqui.
Evidentemente que deveria ser o contrário disto
não ouvir não olhar não comparar
ser eu ainda
um oceano desconhecido.

Mas pelo contrário sei que sem os outros
não seria movimento;
tudo o que faço é como uma reacção à chicotada
que é minuto a minuto
o dia-a-dia.

Escrever ou pintar
não parecem forma de me encontrar
de me esconder de te encontrar.
....
Tudo o que faço e o que não faço
transcende de muito no entanto
o visível o palpável
o imaginável.

Entre mim e mim
há o infinito da proximidade.
...
Será que os espelhos
agem por medo
em estado de pânico ?

Cada peito uma rocha
e tudo espelhando a dissonancia
como uma jangada enquanto esperamos da chuva uma qualquer verdade
- qualquer serve-
para enganar as fomes em equilíbrio instável
entre dois continentes incontinentes
um a vida como um mineral
outro a morte esse vegetal eternamente desconhecido
no mar
como num leito em fúria ".

( Artur do Cruzeiro Seixas, OBRA POÉTICA, vol.I,
organização de Isabel Meyrelles, ela mesma poeta e tradutora
Quasi ed., 2002 )

A Morte Alquimica



Motto:

What is death to another is life to me.

À autruy mort, à moi vie.

O que é morte para alguns
a mim dá-me vida.

Lema que pode bem servir para a obra de alquimistas :
a salamandra faz parte do bestiário secreto da transformação da materia em ouro ou elixir ou simplesmente energia.