Thursday, January 24, 2013

De Jean Cocteau (1889-1963) descubro agora em dvd um filme feito por ele e com ele, Le Testament d'Orphée, de 1960.
Imaginário mítico e simbólico elevado ao mais alto grau, em cenário surrealista, de que um Buñuel não desdenharia, e por onde passam grandes nomes do teatro e cinema: Maria Casarès, Daniel Gélin, Jean Marais, Yul Brynner, outros.
Do ambiente intemporal onde se atravessam limiares de morte e vida, luz e sombra, à vida de café boémio ( como no Café de Flore, à época) ou ao acampamento de ciganos, com flamengo, às piadas íntimas: chamar Éluard ao seu jovem guia, seu alter ego, num dos diálogos
-quel est son nom?
-Éluard
-un sobriquet? (alcunha)
-plutôt un pseudonime...
ou ao aparecimento fugaz de Picasso entre o grupo de pessoas que dum balcão espreitam Cocteau morto, e até a um dos vestidos que reconheci (sou desse tempo..) como um dos que se usou, da Boutique Elle, da revista do mesmo nome, nos Champs Élysées e que B.B. tornou célebre!
Mistérios do passado mítico atravessados pelo alegre incoformismo do imaginário poético de um surrealista que se definiu eterno, como a poesia!
A bela cena dos espelhos, que por um lado reflectem demais (ils réfléchissent trop...), por outro desvendam o lado de lá, o que se esconde de nós e somos nós na sombra, merece reflexão, atravessamento, como a  história de Alice do outro lado do espelho...
É do lado de lá  que a verdadeira vida acontece, a que devolve o outro a si mesmo, por via da criação, para sempre.