Saturday, November 14, 2009

Alquimia e Misticismo


Houve um tempo em que estudar ou aludir a estas matérias herméticas não era bem visto. Não se considerava que fossem dignas de estudo.
Jung foi pioneiro na defesa da importância do discurso alquímico como discurso arquetípico, matricial, de uma consciência ou de um imaginário colectivo em que se desvendava o permanente pulsar do Universo criado e da sua Manifestação.
No fundo, a experiência alquímica era uma experiência da alma em transformação, uma experiência mística, daí o discurso ser a-lógico, intuitivo, mais facilmente expresso por imagens do que por elaborados raciocínios.
Os raciocínios, quando existiam, e a dada altura existiram com alguma abundância (no século XVIII e seguintes) serviam mais para perder o fio de Ariadne do que para o encontrar, e inclusivé punham a descoberto a dificuldade do próprio, adepto ou apenas curioso, se entender a si mesmo e ao que pretendia dizer.
O discurso alquímico é mais para ver do que outra coisa, é mais para ser assimilado como revelação, a ser ou não posteriormente transmitida.
Vem isto a propósito de uma pequena edição da Taschen, que no New York Times Book Review é apreciada nestes termos:
" ...a fast food, high-energy fix on the topic at hand".
Trata-se de facto de um pequeno guia, um pequeno dicionário de imagens alquímicas, com os comentários necessários para que o leitor fique esclarecido sobre a evolução dessa arte, dessa filosofia de iniciação cristalizada desde os tempos mais antigos e de que modernamente a Maçonaria, nos seus rituais, também se constituiu herdeira.
Se é certo que a doutrina dos 4 elementos remonta a Empédocles, que os define como " as quatro raizes de todas as coisas" não é menos certo que a terra, a água, o fogo e o ar (suas oposições, conjunções, transformações) continuaram ao longo dos tempos a habitar o imaginário colectivo de múltiplas culturas, a Oriente e a Ocidente.
Aristóteles afina estes conceito, como nos diz Alexander Roob na introdução, cunhando a ideia de uma prima materia comum a todos os elementos, e será esta hyle ou matéria primeira que mais interessará os alquimistas, que a definem como o seu "caos", a sua matéria negra", entre várias outras designações, - desde que apontem para algo de informe, indefinido, carecendo de sublimação.
Na sublimação dessa matéria consistirá a Obra, a Magnum Opus.

1 comment:

Ariete Nasulicz said...

Ainda existe muito preconceito com os estudos alquímicos, principalmente na academia, legitimadora dos saberes. Defendi recentemente meu mestrado sobre o assunto... e como era de se esperar, fui duramente criticada pelo "tribunal do santo ofício científíco". Embora a alquimia seja o gérmen da ciência moderna, parte da antiga ciência sagrada, a ciência e suas instituições renagam a tradição hermética. Para ela, o passado místico é algo superado, que deve ser esquecido... e julgam como loucos aqueles que tentam rememorá-lo. Só ouvem a voz da sua "verdadeira ciência" atual... e desdenham do legado da sabedoria antiga... Mas ainda bem que a academia não é o único espaço para discussão... Gosto muito desse blog... gosto da maneira como os assuntos sao expostos... para mim ele tem alguns insights geniais...