Friday, March 10, 2006

Ainda a casa...

Gaston Bachelard continua a ser, ainda hoje, um guia nestas matérias inesgotávais do imaginário literário e não só, também antropológico e científico.
Ao ler LA TERRE et les RÊVERIES du REPOS encontramos a descrição da "intimidade material", capítulos sobre a "casa natal e a casa onírica" e seu significado oculto/revelado (pois o sonho de imagem forte é sempre revelação), "o complexo de Jonas" , ou da casa que nos engole, e nem sempre nos salva, algo de que bem se podem queixar muitas mulheres, ou jovens que os pais não permitem que cresçam,e ainda, com forte implantação à terra o imaginário da gruta, (um arquétipo primordial) ou o do labirinto, que não foi apenas guardado pelo minotauro, mas continua em "desenvolvimento" nos nossos hemisférios cerebrais, por onde um fio de Ariadne nem sempre nos conduz.
Bachelard termina esta obra com imagens que nos são habituais, mas que requerem aprofundamento: a serpente, a raiz ( tão importante, a raiz, para centrarmos a vida, a nossa e o entendimento da dos outros, e finalmente o vinho e a vinha dos alquimistas.
Bachelard sublinha que a alquimia é sempre de grande ambição no tocante à visão do mundo:" Ela vê um universo em acção na profundeza da mais pequena substancia; mede a influencia das forças multiplas e longínquas na mais lenta das experiencias.Que esta profundidade seja finalmente uma vertigem, que esta visão universal pareça uma visão onírica quando comparada aos princípios gerais da ciência moderna , é algo que não invalida o poder psicológico de tanta rêverie, de tanta imagem honrada por uma tão constante convicção" . A conclusão que se retira do percurso de G.B. é que há leis próprias do sonho,princípios da vida onírica: " em todos os seus objecto, a NATUREZA sonha".
Seguindo a meditação alquímica fundamentada na natureza acedemos ao que se chama " a convicção da imagem" poeticamente saudável provando que a poesia não é um jogo uma brincadeira, mas antes "uma força da natureza".

2 comments:

VMM said...

Olá querida Mestre,

A Casa será apenas o refúgio onde nos procuramos, construímos e por vezes nos perdemos ? Onde nos cozinhamos, temperamos e salvamos ou por vezes nos aprisionamos e perdemos ?

Gosto de pensar na casa como apenas justificada como ponto de partida e regresso, espécie de porto onde preparamos as viagens e onde regressamos para saborear o triunfo das mesmas.

Essêncial portanto mas sem «justificação» ou fim em si mesma. Centro de onde se parte e onde se retorna, quase mais útil pelas portas e janelas que permitem aceder ao exterior do que pelo que se passa no interior ...

Será esta «visão» demasiado distorcida ?

Adorei o seu blog.

Grande beijinho: Vasco.

PS: Espreite o clubedopoetamorto ...

Yvette Centeno said...

querido vmm, sábias consideraçoes, a que acresecento que mortos já estamos todos nós , não vocês, claro, que estão ainda na fase de "marotos". Se falas do filme, vi quando ainda estava viva ! se é um site, manda por mail o endereço.
E é claro que o melhor da casa é a fuga que permite, que provoca, à qual incita...