Wednesday, May 10, 2006
Tales for Transformation
Com este título, traduziu Scott Thompson e editou em 1987, os seguintes textos de Goethe, tornando-os acessíveis a um público mais alargado: Fairy Tale (O Conto da Serpente Verde), The Counselor, The New Melusina, The Good Women, Novelle, The Magic Flute ( a continuação incompleta da Flauta Mágica de Mozart ).
Escreve o autor, na Introdução, " Sparks from the athanor, the Vase of Hermes, flicker in and out of these tales about sel-mastery and transformation ". Esta linguagem já nos é familiar, e não vou demorar-me mais com ela.Saliento antes a importancia que teve o estudo da filosofia hermética no desenvolvimento espiritual do jovem Goethe quando, tendo de regressar doente a casa, já aos 19 anos iniciava uma aprendizagem que não mais cessaria e transparece em tudo o que escreveu.
Uma amiga foi sua conselheira, para não dizer iniciadora: Susana von Klettenberg, por sugestão do médico pietista que tratava então Goethe da sua grave e algo indefinida doença. Seria talvez a nigredo, a melancolia, a "depressão" que precede grandes transformações nas almas mais inquietas.
Goethe lê então todos os tratados que se encontravam disponíveis: Paracelso, Basílio Valentino, neo-platonistas, gnósticos e outros, como Boehme,Cornelius Agrippa,etc. As fontes encontram-se em Dichtung und Wahrheit, ou nas Conversas com Eckermann, seu secretário.
Da bibliografia mais interessante sobre o Conto destaco de Oswald Wirth a trad. francesa publicada em 1993 nas ed. Dervy de Paris.
Sendo maçon, como Goethe, faz uma detalhada análise, passo a passo, do simbolismo iniciático da obra, não descurando nenhuma situação ou personagem.Pretende decifrar aquele segredo que a serpente sussurra ao ouvido do Velho da Lanterna, na minha opinião o verdadeiro PAI da Obra, sugerindo que a palavra oculta fosse HUMANIDADE.
Contudo, tratando-se no caso de uma iniciação dupla, maçónica e alquímica , talvez essa palavra que Goethe não desvendará nunca, seja FRATERNIDADE.
A Irmandade que é a maçonaria, com o seus ideais de sacrifício pela Liberdade e Igualdade de todos os homens, sem distinção de classe, raça ou religião, supõe um dom muito especial, uma capacidade grande de se abrir aos outros, de se sacrificar, como faz a Serpente neste conto mágico.
Wirth termina comentando que "Os símbolos se destinam a fazer pensar. Só à preguiça de espírito agradam os dogmas ou os sistemas claramente fechados".
Sem dúvida que é pelo facto de estarmos perante uma Obra sugestiva e ABERTA que hoje, como então, se é levado a ler e a pensar sobre este Conto cuja liçao simbólica intrigou os amigos de Goethe, como nos intriga a nós.
Outro autor que também se debruçou sobre o pensamento de Goethe, comentando O Conto da Serpente Verde e o ciclo de Os Mistérios foi Rudolf Steiner, numa edição que podemos agora ler em trad. franc. de André Tanner e René Vittoz, de 1970.
Aqui o olhar, não menos interessante, é o de um teósofo, fundador de um movimento "antroposófico" que tem cultores um pouco por todo o mundo, embora o centro esteja sediado na Suiça.
Em 1820 Goethe escrevia a um amigo"Tive de abdicar da minha vida para poder existir" (Ich musste mein Leben aufgeben, um zu sein).
Julgo que é esta a verdadeira lição, o verdadeiro segredo, da identificação de Goethe com a serpente do Conto.Nunca o disse a ninguém, mas transparece destas considerações feitas tantos anos mais tarde.
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