Wednesday, May 03, 2006

Pedras II


Emma Jung e Marie-Louise von Franz ocupam-se da LENDA DO GRAAL (LA LÉGENDE DU GRAAL, trad. Albin Michel, 1988) de um ponto de vista psicológico e simbólico, na linha dos trabalhos de Jung.
Percorrem no entanto, em apontamento bibliográfico cuidadoso, todos os tratados alquímicos em que a Pedra Filosofal seja referida e descrita com algum pormenor, para depois se entender a sua função nas lendas tradicionais do Graal: de Vaso onde foi recohido o sangue de Cristo , a rocha onde Merlin, encantado por sua irmã fica retido e perde os seus poderes, até às variantes das visões descritas po Eschenbach e antes dele Chrétien de Troyes,no séc. XIII.
No cap. VII da sua obra, "Le Graal et la Pierre", Emma Jung refere o que o seu marido tinha dito àcerca do vaso na alquimia, a saber que era " um símbolo autêntico portador de uma ideia mística e oferecendo um campo muito vasto de conexões de sentido ".
Cita depois uma alquimista muito célebre da Antiguidade, Maria a Profetiza : " Todo o segredo consiste no conhecimento do vaso hermético". Descrevem-no como matriz, útero,de onde nascerá o philius philosoporum, sendo ao mesmo tempo "misteriosamente identificado ao seu conteúdo"; outras vezes designam-no por aqua permanens, água perpétua, ou ainda por jardim filosófico onde "nasce o nosso sol".
O vaso é ainda, e por fim, o LAPIS PHILOSOPHORUM, a Pedra filosofal.Algo que contém e é contido, simultâneamente, algo que tendo muitos ou todos os nomes, não tem nehum, tornando-se materia espiritual, transcendente, por isso mesmo.
A equivalencia entre o vaso e a Pedra surge de modo especial na lenda contada por Eschenbach, no seu PARSIVAL:

"Num pano de seda verde
ela trazia a perfeição do paraíso,
ao mesmo tempo raiz e ramo.
Era uma coisa chamada o Graal
ultrapassando toda a perfeição terrestre."

E ainda:

" Eles (os cavaleiros do Graal) vivem por meio de uma pedra
da mais bela qualidade.
Se não a conheceis,
direi aqui o seu nome.
Lapsit exillis ( sic ) é o seu nome."

Sobre esta designação muito se tem discutido. Alguns estudiosos entendem que se deve traduzir por lapis ex coelis, pedra vinda do céu, como se fosse um meteorito, pois na Antiguidade, diz Emma Jung, julgava-se que os meteoritos eram pedras "com alma".
Kyot terá sido o transmissor desta lenda a Eschenbach, marcando-se por aqui uma origem árabe, distinta da de Chrétien, que seria provençal.O místico alquimista Thabit ben Qorah, que viveu em Bagdad de 826 a 901, pode ter sido o Flégétanis que Kyot cita como fonte segura desta lenda. Na literatura latina surge com o nome de Thebed. Mas há muitas outras suposições, e o próprio Eschenbach a dada altura conta que os escritos de Flégétanis tinham sido encontrados em Toledo, o que faz todo o sentido, se nos lembrarmos de que em torno de Afonso o Sábio se desenvolveu um mundo de estudiosos e tradutores cujas obras circularam pela Península e por toda a Europa culta.

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1 comment:

Yvette Centeno said...

Magritte, é claro, um óleo de 1961, "O Castelo dos Pirinéus" !
Com ironia, tudo se recupera.
Num óleo anterior, de 1959 "A Chave de Vidro", uma pedra ainda maior está pousada no alto, entre duas montanhas. Chave de vidro que podia ser chave de vida, como no Graal.