Monday, May 08, 2006

A.E.Waite



Waite, em THE REAL HISTORY OF THE ROSICRUCIANS,London,1887, inclui, em apêndice, uma Alegoria Rosicruciana: A ROSICRUCIAN ALLEGORY.
Depois de ter desfeito muitos dos equívocos habituais sobre a origem e desenvolvimento na Europa das doutrinas Rosa-Cruz, deixando bem claro que ela se situa no século XVII e não antes, passa de seguida à influencia que o pensamento reformista de Johann Valentin Andreae teve, sobretudo em Michael Maier, um dos mais conhecidos na Alemanha, e Robert Fludd, no que ele definiu como a sua filosofia cósmica, em Inglaterra. Aliás aqui encontraremos um pensador como Thomas Vaughan, irmão do célebre "platonista de Cambridge" Henry Vaughan, fazendo a apologia do movimento Rosa-Cruz e traduzindo para inglês a FAMA FRATERNITATIS...e a CONFESSIO. Vaughan escrevia sob o pseudónimo de EUGENIUS PHILALETHES, sendo autor de um tratado muito reconhecido na época, o INTROITUS APERTUS AD OCCLUSUM REGIS PALATIUM ( A Entrada Aberta no Palácio Fechado do Rei ).
Acreditava que todo o universo seria, como anunciara séculos antes Paracelso, numa profecia, "transmutado e transfigurado pela ciência do artista Elias" fazendo surgir a CIDADE ESPIRITUAL de DEUS, em puro e místico ouro (Waite, p. 308 e segs.)
A anunciada NOVA JERUSALÉM permitiria viver sem a prisão da " moeda "e ambição que despertava no comum dos mortais, sendo causa de muitos erros e sofrimentos nas nações.No centro desta Cidade cresceria ,eterna, a Árvore da Vida, dispensando saúde a toda a humanidade. Esta, em resumo, a utopia de Vaughan.
Nascido em 1612, viajou por muitos paises e escreveu sob inúmeros pseudónimos, o que alimenta o mistério existente à sua volta: Doctor Zheil, Carnobius, e no dicionário de Lenglet du Fresnoy encontramos Thomas Vagan, por erro do francês, como diz com sarcasmo Waite. Mas o seu "Nom de plume" era de facto Eugenius , e não Ireneus Philalethes, como outro francês, corrige ainda Waite, supõe (refere-se aqui a Louis Figuier, ilustre estudioso de alquimia).
Waite indica todas as publicações de Vaughan,desde 1650 até 1678.São numerosas, e de algumas, mais interessantes pelo conteúdo simbólico e alquímico, me ocuparei um dia.

Quanto à Alegoria que referi logo no início deste post, pode ser lida nas pp. 443-4, e descreve um caminhar até ao CENTRO DO MUNDO, onde se encontra uma Montanha que é simultâneamente pequena e grande, macia e dura, longínqua e próxima, escondendo nela todos os tesouros do mundo.
Se estivessemos a ler um trtado de alquimia este seria um caminho para adescoberta da Pedra filosofal, imagem de união de contrários, definida por muitos nomes, como aqui. A inspiração dos textos Rosa-Cruz, como também Waite observou, é puramente de raiz alquímica. Não é acaso citarem, quando vem a propósito, o sábio Paracelso.
Continuando, com a Alegoria :
A montanha está guardada por muitos animais ferozes e aves de rapina, de modo a desencorajar quem a procure.O herói corajoso deve preparar-se pela ORAÇÃO, e não perguntar a ninguém qual o caminho. O guia surgirá por si próprio, no momento certo.
Repare-se que o interdito da PERGUNTA é o próprio da iniciação; recordo o jovem Parzival, mas muitos contos populares vivem de tal interdição.
O GUIA levará o adepto, em sendo MEIA-NOITE, quando tudo fôr escuro e silencioso até à montanha.A única coisa que este deve fazer é rezar a Deus, buscando-o com sinceridade.
Já na montanha assistirá aos seguintes fenómenos naturais, que não o devem assustar:
1.um VENTO muito forte;animais selvagens como leões, dragões e outros tão terríveis como esses.
2.um tremor de TERRA que arrasará o que o vento tiver deixado em pé.
3.um INCÊNDIO ( FOGO ) que consumirá todo o lixo restante, pondo a descoberto o TESOURO , por enquanto invisível.

Passadas todas estas coisas, ao nascer do dia, virá uma grande CALMA, e poder-se á ver a ESTRELA DA MANHÃ, dissipando toda a escuridão.
" Então CONCEBERÁS um grande tesouro", diz o narrador. Trata-se de uma "Tintura" com a qual o mundo, se serviu Deus e fôr merecedor de um tal dom, poderá ser "tingido" e transformado "no ouro mais puro".

Assim termina uma Alegoria fundadora do imaginário Rosa-Cruz, permitindo ver como também nesta tradição o trabalho dos quatro elementos, a humildade e a oração, tal como no MUTUS LIBER, são garantia, não de sucesso, mas de perfeição ESPIRITUAL.

1 comment:

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