Monday, April 17, 2006

J. Garcia Font, Alquimia...


A Historia de la Alquimia en Espanã, de Juan Garcia Font,1970, dá uma visão bastante completa de como se desenvolveu na Peninsula a busca do ouro, por via,sobretudo, da alquimia e das ciencias árabes em geral.
Considera Espanha a "porta maior" da alquimia, o que faz sentido se nos lembrarmos que em Toledo se estabeleceu um grande centro de tradução e divulgação do chamado quadrivium de que também a alquimia como medicina ou química faria parte.
Cita Pedro Hispano, que foi Papa com o título de João XXI, e terá nascido em Lisboa em 1210.
Mas para a obra de Pedro Hispano tenho de remeter os estudiosos para a edição de Maria Helena da Rocha Pereira, que desse nosso autor fez a apresentação mais completa que conheço até hoje.
Thorndike, que Font cita várias vezes, deixa entender que P.Hispano poderia ser de Compostela (daí que se intitulasse Hispano ) e não de origem portuguesa.

Está por fazer, de um modo exaustivo, se tal for possível,uma História da Alquimia em Portugal.
Há muita matéria a investigar nas nossas bibliotecas, assim aparecessem curiosos bastantes.
Numa comunicação que apresentei à Academia das Ciências em 1988 faço um pequeno historial do que alguns autores entenderam por alquimia " como sebastianismo da filosofia ", nas palavras de ANSELMO CAETANO, ou como " ciência verdadeira" segundo Jamblico citando Hermes , "que preside à palavra" .
Que a filosofia hermética, ou a alquimia, circulavam em Portugal dese sempre dá testemunho a Livraria de Frei Vicente Nogueira, cuja "Relação", feita pelos Inquisidores que a confiscaram, se encontra na Biblioteca Nacional de Paris, ms. port. 51.
Aqui se podem encontrar as obras de Alberto Magno, Raimundo Lúlio, Giordano Bruno, H.C.Agrippa, Paracelso, G.Dorn, o Theatrum Chemicum, cujos 4 volumes contêm quase tudo o que existe de mais importante nestas matérias, Basílio Valentino, etc.
É certo que em João de Barros, na Ropica Pneuma, encontramos a condenação da alquimia .Mas isso só prova que se sabia do que se tratava, fosse para elogiar, fosse para condenar.
Diz a Razão ao Tempo,comentando os vícios dos maus conselheiros que prejudicam os reis:
" ...E assi nunca mudam a vida nem o estado dela e sempre andam tisnados da conversação desta má alquimia ".
E responde o Tempo:
" Por mais certos e ditosos alquimistas haveria eu aos ministros que ao senhor, ca eles põem vento e o senhor a substância , e da sua perda tiram ganho " .

Claramente se percebe que se trata de transformação, de mudança: com duplo sentido, alquímico nos processos, político nas intenções,em que uns perdem e outros ganham, como sempre acontece em tudo o que é governação. João de Barros sabia do que falava, pois quando se perdia o favor do rei, ou dos senhores, perdia-se também geralmente a cabeça.

2 comments:

Fokas said...

Cara Prof.,

Desculpe a minha ignorância na matéria...O Hermes Trimegistus (o três vezes grande...)dos gregos que viviam no Egipto estava associado a prácticas secretas, cultivadas pelos alquimistas?
A Alquimia procura baixar às profundezas da almas ou estabelecer uma correlação entre um estado emocional e o nível de açucar no sangue? ...falaram-me no "Leite negro" do Paul Celan. No sol negro de brilho e escuridão.
o que há nisto tudo de "verdade"?
A verdadeira alquimia não está no uso adequado das palavras?

Aquele abraço

Yvette Centeno said...

Caro Fokas, mas isto não são horas de estar a dormir?Claro que tudo está no uso adequado das palavras.Mas palavras leva-as o vento, ou como se diz na ATALANTA FUGIENS, Atalante Fugitive na trad.francesa de E.Perrot, "Le Vent l'a porté dans son ventre".
Quanto ao leite negro de Celan a história que nele se bebe é outra, é de morte e não de esperança de transformação como na alquimia.