Tuesday, June 27, 2006

O AMIGO E O AMADO


"Disse o amigo que no seu amado havia misericordia e justiça" .

Lulio, com esta afirmação leva-nos a pensar nos nomes de Deus, segundo a Kabala, e no livro do Zohar, o esplêndido monumento da mística judaica do século XIII.
Na árvore dos Sefiroth estes são dois dos ramos sagrados pelos quais a divindade se manifesta na plenitude do seu ser.

Na segunda metade do século XIII surge em Castela o Sepher-ha-Zohar, ou Livro do Esplendôr.
Contém os diálogos do Rabi Siméon bar Jochai com o seu filho Eléazar e outros amigos do círculo de iniciados.Trata-se de uma obra complexa, múltipla e não contida numa única sequencia de um mesmo discurso : inclui escritos e comentários muito diversos sobre a Torah, o que fez com que durante algum tempo se discutisse se haveria ou não uma autoria única. Gershom Scholem veio finalmente esclarecer este assunto, com o estudo do estilo e da linguagem, afirmando que haveria uma autoria única em pelo menos dezoito dos escritos pertencentes ao Zohar, pela mão de Moisés de Leão, que terá escrito a obra entre 1274 e 1286.
A doutrina do Zohar é " a coroação do Kabalismo espanhol do século XIII " na opinião de estudiosos como Leon Gorny, seguindo G. Scholem.
De raiz gnóstica, terá sofrido influencias do Talmud babilónico e dos escritos de Maimónides, e ainda de um célebre tratado anterior, O Jardim de Nogueiras, de Gikatilia, também do século XIII.
No essencial, e resumindo um pouco à pressa, o Zohar contém uma doutrina teosófica da concepção de Deus e da criação do mundo, através da representaçao simbólica da árvore dos Sefiroth : são dez, com Kether, figurando a primeira Sephira, suprema coroa de Deus, e Malkuth, a última, sob a forma da Shekina, ou de Kneseth Israel, o arquétipo místico da comunidade de Israel.
Entre a primeira e a última Sephira se desenrola toda a criação, sendo um dos seus "ramos" mais importantes Tiphereth, a Misericórdia de Deus, que faz a mediação entre o Amor e a Justiça divinas.
Vemos assim que a árvore dos Sephiroth representa o esquema simbólico da vida divina na plenitude da manifestação. O En-Sof é a raiz e a seiva e a árvore no seu todo a figuração simbólica do mundo. Tudo o que existe é extensão de uma Sephira, de um dos ramos da árvore.
O mistério maior do Zohar consiste na passagem da plenitude do En-Sof à revelação do universo criado, através da passagem por um Nada absoluto, um Nada místico, que permite a sucessiva emanação dos Sephiroth. Esse Nada é Kether, a mais alta Sephira, a Coroa suprema da Divindade.

Bibliografia:
Leon Gorny, La Kabbale, ed. Pierre Belfond, 1977
G.G.Scholem, La Kabbale et sa Symbolique, ed.Payot, 1966; Les Origines de la Kabbale, ed. Aubier-Montaigne, 1966
ZOHAR, Sepher Ha-Zohar ( Le Livre de la Splendeur ), trad. do texto caldaico e notas de JEAN de PAULY, introd. de A.D.Grad,
ed. Maisonneuve et Larose, 1975, 6 vols.
LE BAHIR (Le Livre de la Clarté ) trad. do hebraico e do aramaico por Joseph Gottfarstein, ed. Verdier, 1983

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