Monday, April 23, 2007
O Templo de Pessoa
Pessoa e a destruição do Templo.
Agora que estão na moda todos os esoterismos possíveis e impossíveis convém de vez em quando lembrar vozes, como as de Fernando Pessoa, que em toda a sinceridade alertavam para o que há de perigoso em todo e qualquer mistério. É no espólio, nos fragmentos (alguns que publiquei,com o título de O Pensamento Esotérico de Fernando Pessoa, ed.ETC. 1990 ) que iremos encontrar considerações que nascem de uma cuidada reflexão, por muito estranha que hoje nos possa parecer. Paulinho Assunção diria que somos todos "voltaireanos" -veja-se o texto do seu blog. Talvez tenha razão. Já ficam longe as utopias, deste Templo pessoano ou de outros, mais interventivos, mas em que também já poucos acreditam e ainda menos se dispõem a fazer por eles qualquer espécie de sacrifício.
A moral relativista matou a utopia no homem.
Mas não havia ainda relativismo no tempo de Pessoa e a marca esotérica, sendo forte, alimentava a chama. Eis Pessoa, em parte das considerações de que simplifiquei apenas a escrita para facilitar a leitura:
"A Destruição do Templo
( Introdução à história moderna)
A simbólica da destruição do templo nos fenómenos da crucifixão no Quarto Evangelho.O 'sangue' e a 'água' que correm da ferida.
A destruição do Templo quer dizer a 'ruina' dos mistérios , e o desastre que foi o derramar pelo mundo e pela humanidade das doutrinas esotéricas, que por natureza se não destinam a ser divulgadas.(Divulgar é destruir, porque a doutrina oculta, divulgada, passa para quem não a pode compreender e que portanto (1) a deturpa na interpretação; (2) a deturpa ainda mais na acção.)
As duas 'divulgações' são a da esotérica como exotérica (ex.o Crisitianismo e sobretudo o Cristianismo bíblico, pois a Bíblia é ininteligível e absurda sem a chave 'alquímica', por assim dizer que a interpreta) e a da exotérica como falsa esotérica, nas irmandades secretas, etc. que já não eram depositárias da verdadeira doutrina esotérica, mas de fragmentos muitas delas.
A reconstrução do Templo, a segunda vinda de Cristo (os dois símbolos significam o mesmo sentido) dada pela mística cristã sob as duas formas de 'fim do mundo', ou 'fim da fé (?)', ou ainda 'Juizo Final'.
Das sociedades herdeiras (?) dos antigos detentores da Ciência sobrehumana só uma, cohecida vulgarmente por a Rosa-Cruz, verdadeiramente herda a verdadeira Ciência. Esta misteriosa Fraternidade, de quem ninguém pode ao certo afirmar nada, tampouco sequer sonhar que coneheceu um dos seus adeptos, vela-se por completo da realidade, veio através das épocas ocultas em meio da vida e dos povos.
A iniciação nas sociedades secretas é uma mímica deteriorada,uma figuração em plano inferior da iniciação verdadeira.-O ceremonial maçónico, por exemplo, como o trabalho alquímico, é 'simbólico' ; não significa nem mesmo o que os 'iniciados' neste nível supõem que ele significa.
Ao homem vulgar, que queira entrar as portas do Oculto, diremos uma só coisa: não tentes ! O oculto é que nos procura, não nós a ele; pois, desde a Queda, não há livre-arbítrio. Não somos nós que olhamos para a Matéria; ela é que olha para nós.Colocando-se na passividade chamada mediumnica pode julgar que atinge outro mundos; não faz senão aprofundar a Ilusão, que, como é contínua com o mundo, é para nós verdadeira.
Esta frase é para quem a entende: a 'sublimação é pelo mercúrio'. Toda a iniciação está nisto."
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