Friday, April 20, 2007
Gustav Meyrink
Meyrink, um alquimista da alma.
Foi preciso chegar à decada de 90 para que a sua obra voltasse a ser divulgada. Para quem não leia alemão, a primeira tradução deste texto fundamental para a gnose moderna que é O DOMINICANO BRANCO data de 1994, e está disponível para quem deseje ler.
Neste romance, que decorre sob a égide de um monge catalão do século XII, Meyrink explora e explica um conjunto de tradições místicas, esotéricas,de cuja sabedoria se apropriou ao longo de muitos anos. A mais importante e talvez mais universal, pela antiguidade e simplicidade da "lição" é a do Taoismo. O Tao como Via de transmutação que permite ao indivíduo integrar-se na cadeia dos seres imortais cuja existência reconhece e a cuja revelação e identidade aspira, ainda que tendo de enfrentar múltiplos sofrimentos e perigos que a temível Medusa representa.
" O que em mim era corruptível foi consumido pelo fogo, transformado pela morte numa chama de vida".
" Dissolvido para sempre com cadáver e espada".
A quem já tenha lido o alquimista Zosimo este final se tornará muito mais claro. Ou o livro do Picatrix, outro texto de iniciação.
Naturalmente ler também o Tao Te Ching e ainda O Segredo da Flor de Ouro (estudado por Jung ) onde a magia do Tao se torna mais explícita.
De todo o modo será sempre de ler esta obra de Meyrink. O olhar de um ocidental sobre as antigas culturas e práticas orientais ajuda ao entendimento que possamos ter delas, sendo nós também produtos de um ocidente em busca de caminhos. Meyrink deixa o recado: não há utopias redentoras no imaginário do colectivo; só há caminhos individuais, cada elo da cadeia universal é forjado a par e passo, pelo esforço e pela escolha de cada um no seu momento.
A melhor biografia de Meyrink é de Frans Smit, Gustav Meyrink, auf der Suche nach dem Uebersinnlichen ( EM BUSCA DO SOBRENATURAL ) ed.Langen Mueller, 1988.
Nasce em 1868, vinte anos antes de Pessoa (que nasce em 1888) e morre em 1932 (Pessoa morrerá em 1935). Vivem na mesma época tendo as mesmas preocupações culturais, filosóficas e místicas, sob influencia do teosofismo de Blavatsky e Besant, do misticismo mágico da Golden Dawn,com os seus cabalistas, e procurando no imaginário da alquimia renascentista, de que John Dee é um expoente, a revelação mais ansiada.
Data de 1917 uma primeira edição completa da obra de Meyrink em 6 volumes. O Dominicano Branco, posterior, é publicado em 1921. Em 1923 publica o seu ensaio NA FRONTEIRA DO ALÉM e em 1925 o volume de contos HISTÓRIAS DO ALQUIMISTA.
Numa entrevista de 1922 afirma: " Estou cada vez mais convencido de que não sou "eu" quem escreve mas alguma coisa dentro de mim". Eco bem pessoano de muitas afirmações : há um espírito do tempo naquele período de entre as duas guerras que se manifesta em muitos criadores ainda que sem se conhecerem uns aos outros. Comungam da mesma inquietação, da mesma ansiedade de saber mais, de empurrar as fronteiras do conhecimento do além dentro de si.
Meyrink repudiará, a dada altura, a busca e a prática da mediumnidade, da magia, seja branca ou negra, até do Yoga a que se entregou anos e anos a fio. Pediu que não se iludissem com a ideia de um mantra de auxílio; dizia: em todas as religiões há mantras, derivam do poder da palavra e não de outra força qualquer; a palavra amén, no crisitianismo, é um mantra tão poderoso como os outros.
De olhos abertos preparava já a sua morte, que desejava entregue e tranquila.
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3 comments:
Olá eu gostei muito do texto...e gostaria de saber principalmente o significado da figura q inlustra o texto. Obrigado
Basicamente a legenda diz: visita o interior da terra, rectificando (entenda-se aprofundando, depurando) descobres a Pedra oculta (entenda-se a Pedra filosofal, símbolo da sabedoria).
Sob a influencia dos sete planetas, dos quatro elementos, dos três princípios, se desenha o caminho da nossa (do adepto) transformação..
O círculo figura o centro (a perfeição) em que Deus, o mundo e o homem se inscrevem,
Os números permitem um jogo cabalístico, onde o importante é o significado das somas.
Olá, cumprimentos.
Não sabia que estava disponivel uma tradução do " Dominicano Branco". É possivel saber em que editora?
muito obrigado
JG
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