Monday, February 06, 2006

as pátrias da cultura

" a cultura não tem pátria porque tem todas " (Fernando Pessoa).
Thomas Vaughan ,filósofo hermético do século XVII, marcou o pensamento dos seus contemporâneos em Inglaterra, mas veio também curiosamente, no século XX , influenciar criadores como Fernando Pessoa, que o cita, num dos seus textos avulsos, a partir de A.E.Waite, The Works of Thomas Vaughan:Eugenius Philalethes,London ,1919 . Mais recentemente foi apresentado com um novo prefácio de Kenneth Rexroth,Uiversity Booka, New York 1968.
Pessoa ,também ele um místico e alquimista à sua maneira , encontrou no pensamento de Vaughan um caminho para a iluminação, consciente de que a "transmutação" do homem é o objectivo supremo da chamada "Arte Real" de que a Pedra dos alquimistas ou o Graal dos cavaleiros da Tavola Redonda são igualmente um emblema,
Pesoa foi um desses cavaleiros da "Alma" e em muitas culturas procurou a sua pátria escondida: no ocidente judaico-cristão, tanto como no oriente próximo e longínquo.
Vaughan anota cuidadosamente os seus sonhos, que considera fontes de revelação, seguindo o exemplo de John Dee o mago de Isabel I . Na sua obra os psicólogos junguianos encontrariam bons exemplos de estudo.
Dos seus tratados eu destacaria, pela riqueza simbólica, o Lumen de Lumine: é talvez o mais claro ,o mais explicito na decifração dos símbolos com que lida. Ajuda-nos a perceber como, desde a antiguidade, a relação não se perde no que à estrutura arquetípica, profunda, diz respeito, e uma ponte se estabelece entre um Vaughan, um Goethe, um Pessoa ,
para apenas citar estes.
Pessoa, no doc. 54-97 do Espólio refere que" os ensinamentos ministrados nos mistérios abrangem três ordens de coisas :1 a verdadeira natureza da ama humana,da vida e da morte; 2 a verdadeira maneira de entrar em contacto com as forças da natureza e manipulá-las;e 3 a verdeira natureza de Deus ou dos Deuses e de criação do mundo .Sâo o segredo alquímico, o segredo mágico, e o segredo místico."
Pessoa acrescenta , bem, que a linguagem alquímica não é mais do que uma linguagem simbólica.
Será, mais do que nunca ,por um tal entendimento que poderemos chegar a uma maior variedade de culturas em suas várias pátrias.

1 comment:

Ariete Nasulicz said...

quero ler todas as suas postagens!... começando pelo mês de fevereiro de 2006... será uma leitura homeopática, cada dia um pouquinho, para que eu possa refletir e aprender mais um pouquinho no dia seguinte... linda contribuição essa sua para aqueles que se interessam pela Grande Obra...