Wednesday, January 17, 2007
As Pedras de INEZ W.
Ou melhor, as Pedras no caminho de Inez.
Foi Gerhard Dorn, alquimista, quem na senda de Paracelso mais contribuiu para divulgar a visão simbólica da Arte e da Pedra Filosofal, com o seguinte apelo: " transformai-vos em pedras filosofais vivas ! "
Acabava assim a ideia de uma pura e simples magia operativa, laboratorial, que já Zosimo, o mais interessante alquimista do círculo de Alexandria, no século III da nossa era, tinha tentado combater.
A via hermética era apresentada como um caminho mais secreto e mais íntimo ( e também mais lento e mais difícil ) de aperfeiçoamento individual. O homem era a Pedra, e as transformações teriam de dar-se no seu espírito e na sua alma, talvez também com a esperança de que viessem a iluminar de algum modo o corpo.
Símbolos lendários como o da Taça do Graal, da Pedra Filosofal, do Elixir de Vida deviam ser entendidos como modelos ou arquétipos de transformação e não mais do que isso. Imagens ou ideias-força que ajudam a seguir caminho. Como dizia Gurnemanz a Parsifal ( na ópera de Wagner ) o caminho faz-se caminhando, afirmação que deixou perplexo o jovem herói mas não o impediu de progredir.
As pedras que Inez foi reunindo ao longo do seu caminho não são as marcas do pequeno polegar que deseja antes de mais um feliz regresso a casa ( o regresso à infância ).
Com as pedras que reuniu, Inez constrói um MANDALA: um objecto místico e mágico, um círculo de meditação, centrípeto na sua dinâmica, que se oferece ao nosso olhar para que nele "fixemos", usando linguagem alquímica, tudo o que em nós se dispersa e distrai, volatilizando as energias que nos constituem.
A concentração nas pedras - que são, no dizer de outros hermetistas, os ossos da terra - é a concentração no corpo da vida, na manifestação do mundo criado que ali, naquele círculo, se condensa e revela.
No coração das pedras bate ocultamente a vida, organiza-se a memória profunda da espécie, liberta-se o espírito das cargas mais pesadas.
O Mandala é um círculo de perfeição. Evoco o dizer de Nicolau de Cusa, em A Douta Ignorância:
" O círculo é a figura perfeita da unidade e da simplicidade". Nicolau de Cusa diz linha, triângulo, círculo, circumferencia, esfera, -diz o Todo em Um, não lhe repugnando citar no seu tratado o antigo Hermes (cap.24, 75. ). É esta a imaginação activa a que as pedras de Inez também nos convocam.
E concluo com Nicolau de Cusa:
" Quem pode, pois, entender a unidade infinita, infinitamente anterior a qualquer oposição, onde todas as coisas são complicadas, sem composição, na simplicidade da unidade, onde não há o outro ou o diferente, onde o homem não difere do leão, e o céu não difere da terra, e onde, todavia, cada uma destas coisas é verdadeiramente ela própria, não segundo a sua finitude, mas ( enquanto é ) de um modo complicado a própria unidade máxima ? " (77, trad. de João Maria André, ed. Gulbenkian ).
Entender não é possível, por esforço do intelecto, a unidade da criação do mundo e do homem - inscritos na unidade maior da divindade que em simultâneo se oculta, se manifesta e se revela.
Mas contemplar no finito o infinito para que aponta, descobrir na pedra a pulsação da terra, a Grande-Mãe, o corpo primordial, é esse o desafio de Inez..
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