Tuesday, January 23, 2007

Alchimie et Imagination Active


Alquimia e Imaginação Activa.
Mais uma lição magistral de Marie-Louise von Franz, a discípula de Jung, fazendo desta vez a análise a par e passo de uma obra de Gerhard Dorn, autor do século XVI. Seguidor de Paracelso, Dorn tenta conciliar no seu tratado as doutrinas místicas do cristianismo com as meditações hermético-alquímicas do seu tempo.
Claramente dá a entender que todos os processos de transformação desejados e obtidos se reportam ao homem, na carne e no espírito, embora possam ser contemplados na matéria, em laboratório.Quer se procure ouro, quer o elixir salvífico, quer a adivinhação pelos quatro elementos, é sempre de projecções da alma que se trata, de imagens do inconsciente que na psique do adepto se revelam como formas em primeiro lugar exteriores para depois serem entendidas como formas profundas do seu ser. Não renegando o espírito cristão em que foi educado, Dorn salienta, sempre que vem a propósito, a necessidade da fé, da prática de uma vida virtuosa, que só ela poderá conferir o Poder de Transformação ambicionado.
" Quando a conjunção entre o exterior e o interior é produzida positivamente, em vez de uma explosão do consciente o que acontece é uma união do consciente com o inconsciente colectivo, um alargamento do consciente em simultâneo com uma diminuição de intensidade dos desejos do complexo do eu. Quando isso se produz o eu retira-se a favor do inconsciente colectivo e do seu centro, o Em-Si" ( le Soi, que traduzo aqui deste modo, pag. 152).
Conclui M-L von Franz que atingir o ponto em que realidade interior e realidade exterior se unem é o objectivo para o qual tende o processo de individuação; aquilo a que Jung chama " o saber absoluto", que reside no inconsciente.

A edição original desta obra de M-L von Franz data de 1978: Active Imagination and Alchemy.
A edição francesa é de 1989, com reedição de 2006.
A tradução francesa é de autoria de Francine Saint-René Taillander-Perrot, de formação junguiana ela também, editora durante largos anos das colecções de LA FONTAINE DE PIERRE, agora retomadas pelas edições Jacqueline Renard.

Reguengos


Afloramentos rochosos
de granito e de xisto
as ossadas da terra.
No meio dos arbustos
trevos de quatro folhas.

Wednesday, January 17, 2007

O seu a seu dono



"Atire a primeira pedra...

A uma certa distância julgamos que sabemos e percebemos a realidade
que nos é dada a ver.
Mas, quando chegamos mais perto, percebemos que fomos enganados.
A imagem, como mero reflexo do objecto que o representa, traiu e atraiu-nos.
Ao aproximar, o nosso olhar é guiado para dentro (do quadro, quadrado).
A seguir é atraído aínda mais para dentro (no círculo, sem início nem fim),
mantendo-se cativo do jogo de luz e de sombra, de cor e de forma, num
equilíbirio aparente entre o cáos e a ordem.
Aqui encontra-se a porta para um outro mundo, desdobram-se os significados,
analogias e conceitos.
Viramos o nosso olhar para aquilo que se reflecte por detras do espelho.
Entra-se nas entrelinhas.
Ao entrar para o interior, o quadro abre-se para o exterior, torna-se uma obra
aberta, que aponta para várias leituras em várias direcções. Iluminadas,
como os raios de sol em leque, as analogias e simbologias.
Assim, suspenso entre o que é e o que parece ser, no reflexo do conteudo na
forma e da alma no corpo, existe a comunicação e encontra(m)-se significado(s)."

( Inez Wijnhorst )

As Pedras de INEZ W.


Ou melhor, as Pedras no caminho de Inez.
Foi Gerhard Dorn, alquimista, quem na senda de Paracelso mais contribuiu para divulgar a visão simbólica da Arte e da Pedra Filosofal, com o seguinte apelo: " transformai-vos em pedras filosofais vivas ! "
Acabava assim a ideia de uma pura e simples magia operativa, laboratorial, que já Zosimo, o mais interessante alquimista do círculo de Alexandria, no século III da nossa era, tinha tentado combater.
A via hermética era apresentada como um caminho mais secreto e mais íntimo ( e também mais lento e mais difícil ) de aperfeiçoamento individual. O homem era a Pedra, e as transformações teriam de dar-se no seu espírito e na sua alma, talvez também com a esperança de que viessem a iluminar de algum modo o corpo.
Símbolos lendários como o da Taça do Graal, da Pedra Filosofal, do Elixir de Vida deviam ser entendidos como modelos ou arquétipos de transformação e não mais do que isso. Imagens ou ideias-força que ajudam a seguir caminho. Como dizia Gurnemanz a Parsifal ( na ópera de Wagner ) o caminho faz-se caminhando, afirmação que deixou perplexo o jovem herói mas não o impediu de progredir.
As pedras que Inez foi reunindo ao longo do seu caminho não são as marcas do pequeno polegar que deseja antes de mais um feliz regresso a casa ( o regresso à infância ).
Com as pedras que reuniu, Inez constrói um MANDALA: um objecto místico e mágico, um círculo de meditação, centrípeto na sua dinâmica, que se oferece ao nosso olhar para que nele "fixemos", usando linguagem alquímica, tudo o que em nós se dispersa e distrai, volatilizando as energias que nos constituem.
A concentração nas pedras - que são, no dizer de outros hermetistas, os ossos da terra - é a concentração no corpo da vida, na manifestação do mundo criado que ali, naquele círculo, se condensa e revela.
No coração das pedras bate ocultamente a vida, organiza-se a memória profunda da espécie, liberta-se o espírito das cargas mais pesadas.
O Mandala é um círculo de perfeição. Evoco o dizer de Nicolau de Cusa, em A Douta Ignorância:
" O círculo é a figura perfeita da unidade e da simplicidade". Nicolau de Cusa diz linha, triângulo, círculo, circumferencia, esfera, -diz o Todo em Um, não lhe repugnando citar no seu tratado o antigo Hermes (cap.24, 75. ). É esta a imaginação activa a que as pedras de Inez também nos convocam.
E concluo com Nicolau de Cusa:
" Quem pode, pois, entender a unidade infinita, infinitamente anterior a qualquer oposição, onde todas as coisas são complicadas, sem composição, na simplicidade da unidade, onde não há o outro ou o diferente, onde o homem não difere do leão, e o céu não difere da terra, e onde, todavia, cada uma destas coisas é verdadeiramente ela própria, não segundo a sua finitude, mas ( enquanto é ) de um modo complicado a própria unidade máxima ? " (77, trad. de João Maria André, ed. Gulbenkian ).
Entender não é possível, por esforço do intelecto, a unidade da criação do mundo e do homem - inscritos na unidade maior da divindade que em simultâneo se oculta, se manifesta e se revela.
Mas contemplar no finito o infinito para que aponta, descobrir na pedra a pulsação da terra, a Grande-Mãe, o corpo primordial, é esse o desafio de Inez..

Friday, January 12, 2007

INEZ WIJNHORST a Mutus Liber for our century



A propos JACOBS LADDERS , I quote the words of Inez herself, presenting the series of drawings she created in 2005:
"Since Jacob woke up, his ladder connecting heaven earth no longer exists. Humans have no longer acces to the higher spheres and the winged angels dare not surpass the ever growing distance.
These drawings are an attempt to reestablish this lost connection. They are objects to climb and help you up.The trip is difficult, maybe unstable or dangerous, but the less fearful might get to the top and the even braver ones, the ones that are not afraid of the fall, dare to jump from there and grab a cloud or a slip of an angels dress and see a glimps of destiny".

Poetical description of a mystical, alchemical vision, such as the one given in the old 1677 MUTUS LIBER, printed in La Rochelle.
The process is described as "solve et coagula" - a dissolution and coagulation taking place in the soul, transforming feelings,dreams, images, intuitions into something more than words could describe. We have here, in this artistic transmutation, a true mute book in the sense that the message it conveys is kept in the secret of the images. Images are our Art of Memory, as Frances Yates has so well explained. But images are also the way of expressing our deepest search, our Quest for a world that is "other " in many senses, the "otherness" hidden in our Unconscious, the Eyes described by alchemists when they say we have acquired new eyes: oculatus abis ( you leave with eyes) .
This magical opening of the eyes is something we get through Inez's experience of the ladders. Mystical, mythical, and also everyday ladders.
As she put in another painting-poem:

" a thread of Spring
a sort of shadow,
of the being of what I am."

( in Uma história mal contada)

To discover what we are, the mission (im)possible, the occult sense of those beautifully described ladders.

El Escorial



Entro em 2007 com uma prenda de uma amiga espanhola que se transformou em rei mago e me trouxe, das edições Siruela, esta magnífica obra. O autor é René Taylor, e faz neste volume as suas considerações sobre a Ideia que presidiu à construção de El Escorial.
Depreende-se que a ideia é a de que o edifício foi imaginado "nas pedras, nos frescos e na planta de construção" como um memorial dos conhecimentos ocultos da época, dando testemunho do que o rei Filipe II desejou que fosse uma obra de construção e significados mágicos.
O rei possuía na sua biblioteca a MONAS HIEROGLYPHICA de John Dee, mago e alquimista, astrólogo da rainha Isabel I de Inglaterra, a quem deveu a protecção que lhe permitia, na sua quinta dos arredores de Londres, desenvolver em sossego as suas ideias e experiências, que vieram a culminar nesta obra, celebrada em todo o lado como matriz de reflexão alquímica e mística, pondo a descoberto os segredos da criação do universo e do mundo.
A Monas é um tratado relativamente breve, que apela à imaginação contemplativa, exercida sobre a imagem que detém o segredo e consta de rectas, círculos e pontos.
Dee afirmava ter encontrado a síntese do universo.
Devidamente contemplada, a imagem que nos oferecia ficaria gravada na mente, seria assimilada pelo intelecto e provocaria na psique uma transformação do homem nessa mónada contemplada. Para Dee, alquimista místico, o milagre da revelação dar-se-ia tanto no laboratório como no espírito do homem iniciado. ( Ver René Taylor, p. 32).
De grande interesse é a listagem das obras herméticas, clássicas e medievais que se encontram na biblioteca do rei, tanto quanto alguma correspondencia que revela o seu paciente patrocínio da arte do ouro, embora sem resultados conclusivos. O seu secretário Pedro de Hoyo ia narrando as experiências de transmutação, com a esperança de que o denominado mestre alcançasse a boa transmutação do chumbo e da prata em ouro. O rei aceitou com magnanimidade os insucessos. Saborosa é uma das cartas em que Hoyo informa que "...el que sabe aquel negocio se había ido a su casa con una buena xaqueca" .
(p. 146 )