Tuesday, November 03, 2020

AS MÃES

 

AS MÃES

(lendo Goethe)

 As mães são

as cuidadoras.

 A elas

é dado o barro

com que moldam as formas

as criaturas

cada qual com a sua vida...

Vidas longas

vidas breves

as mães cuidadoras

são cegas

não  dizem às criaturas

o tempo dado

de espera

 (2 de Novembro, 2020)

 


 

 

Heidegger

Ou sim ou sopas...

 Era dia de ser

ou

era dia de estar?

Ser aqui

para Estar ali

Heidegger a hesitar...

 (2 deNovembro, 2020)

 

O PINTOR (ao modo de Jacques Prévert)

 

O Pintor (ao modo de Jacques Prévert)

 O pintor acabou o quadro.

Deu uns passos atrás

para assim ver melhor.

Pousou o pincel

ou seria espátula

ou raspadeira

ou tinta explodida

de tiro de caçadeira?

Olhava

Mas não sabia.

Teria dito

o que queria dizer?

E se ainda não tivesse dito

agora que tinha acabado

o que podia fazer?

Olhou mais uma vez

mais uns passos atrás:

dissera

“para mim a pintura é resolver problemas” .

Estaria ali o problema primeiro resolvido?

Ou dessa primeira solução nascera

outro problema,

pedindo uma nova solução?

Uma solução-outra

de um nada nunca dito?

Afinal, concluiu ele cansado,

(pintara a noite toda

até de madrugada)

sentado no sofá e de copo na mão

não é melhor um livro

que posso pôr de lado?

 


 

Wednesday, October 07, 2020

 

Mignon no Jardim do Limoeiro

 

Será sonho ou realidade

ver Mignon naquele Jardim

o limoeiro florindo

ela tecendo flores

coroando o seu Amado?

 

-Vem comigo, vem comigo

a terra é de maravilha, feita de luz

tão brilhante

que mesmo o que é escuro brilha...

 

O Amado foi com ela, ela já ia pronta

ia mostrar o palácio de que lhe tinha falado:

estátuas de belo mármore finamente trabalhado

tectos altos, céus pintados, e estranhos dragões ocultos

por outros anjos criados...

 

Eram seres de magia,

sussurravam ao ouvido

aqui vivereis para sempre,

na sombra do limoeiro

ou juntos ou separados.

 

Lisboa, 7 de Outubro, 2020

( para a Ana Maria Pereirinha, Na Galeria Monumental)

Tuesday, October 06, 2020

 


O Pintor e a tela branca

(para o Pedro Chorão, no atelier desmanchado...)

 O que viu ele na tela branca

naquela manhã de sol

em que acordou sem sonhar?

Pequenos rasgões de luz,

pequenos rasgões de negro

e matérias variadas

ali a desafiar.

 Pega no pincel

e pinta

pega na tesoura e corta,

ou na faca da cozinha,

que lhe faltava afiar...

 Aquela matéria branca

ali escondia de tudo, farrapos

meio cozidos

nuvens por descarregar

e um certo azul magoado

que se deixava ficar...

 Difícil seria o dia

em que a tela não falasse

nada lhe chegaria

nem que essa luta o matasse.

 Y.Centeno

(Lisboa, 6 de Outubro, 2020)