Saturday, November 25, 2006

A Doutrina dos Polos



Regularmente, por pura saudade da misteriosa Alhambra hermética, releio o estudo de António Enrique, Tratado de la Alhambra Hermética.
É certo que estive lá e isso torna a saudade maior.
Encontro agora no meu autor a referencia à doutrina dos Polos, que em Espanha se ficou a dever ao místico Ibn Arabí e foi sistematizada pelo seu discípulo Ibn Salin (1270).
Curioso é, como nota A. Enrique, que a mesma doutrina seja aplicada no antigo Império Celeste ( a China ) não para o entendimento das esferas de santidade " mas sim para o entendimento da música das esferas ".
Ideia que iremos de resto voltar a encontrar mais tarde na obra de Shakespeare, também ele um iniciado, a seu modo, por influencia renascentista.
Continuando com A.Enrique:
" El nacimiento de la música se remonta muy atrás en el tiempo.Tiene ella origen en la medida y arraiga en el Gran Uno".
(traduzindo, tem origem na Medida e enraiza no Grande Uno, ou seja,o princípio primordial de onde tudo, por emanação ordenada,medida, procede).
" El Gran Uno procrea los dos polos; los dos polos engendran la fuerza de la oscuridad y de la luz. Cuando el mundo queda en paz y hay calma, la música cobra integridad ( trad. adquire integridade). Cuando los deseos y las pasiones no andan por falsas vías, la música se hace perfecta. La música perfecta tiene su causa: proviene del equilibrio. El equilibrio emana de lo justo, lo justo procede del sentido del Universo. Por eso sólo se puede hablar de música con un hombre que ha llegado a conocer el sentido del Universo. La música reposa sobre la armonía entre el cielo y la tierra, sobre la concordancia entre las tinieblas y la luz".
A. Enrique citava aqui Lue Buwe na sua obra PRIMAVERA Y OTOÑO, por sua vez citado por Hermann Hesse no JOGO DAS CONTAS DE VIDRO...
Assim se faz a transmissão do que é tradição e não se perde no tempo : o tempo dos iniciados é circular, tudo nele está contido e protegido para sempre.
Os Sufis atribuíam grande importancia à música, manifestação das altas esferas da alma. Mas tal importancia provinha já de pitagóricos e platónicos e não é por acaso que a reencontramos nos dramas tão conhecidos de Shakespeare: "desafinadas" as cordas da vida, o próprio universo se via desafinado, desacordado, quebrada a sua primeira e divina "concordancia".
A referencia à unidade dos opostos é ainda própria da alquimia, sabedoria hermética por excelência. E António Henrique, no seu estudo, abunda em exemplos desse género.
Ao leitor curioso deixei as referencias importantes, o resto é caminho próprio. De preferencia visitando Granada, pois como diz o refrão, quem não viu Granada não viu nada !
Sugiro ainda que veja em literatura e arte o post sobre OS MEDIDORES.

Magic Mirror




Magic mirror, magic mirror
magic mirror of compassion
looking through the magic mirror
you may kill all evil passion

Wednesday, November 22, 2006

Medicina, Magia , Alquimia...



PHILIP BALL ganhou o Prémio Aventis para Livros Científicos com esta obra intitulada THE DEVIL'S DOCTOR, sobre Paracelso e o mundo da magia e da ciência no Renascimento.
A edição é de Londres, 2006, e de grande interesse para os estudiosos destas matérias herméticas e não só, pois a dimensão científica e psicológica da obra de Paracelso está a despertar finalmente a atenção que merece.
Jung foi pioneiro, neste tipo de abordagem, mas Philip Ball alarga o âmbito do seu estudo, proporcionando uma leitura ao mesmo tempo informada e apaixonante.
Esperemos que esta obra possa ser rapidamente traduzida em português.

Sunday, November 19, 2006

A Fonte da Vida


Outro dos grandes "motivos" da literatura alquímica, neste caso em gravura do Rosarium philosophorum, 1550.
A fons mercurialis apresenta-nos os tres reinos, mineral, vegetal, animal; os três princípios,(os bicos de onde escorre a água -enxofre, mercúrio e sal, ou espírito, alma e corpo ); o dragão de duas cabeças formando um mandala de perfeição contendo os opostos sol e lua, par andrógino, imagens da conjunção, antecipada por uma flor que uma estrela parece coroar. Se a flor ainda nos liga à natureza e à vida, a quinta estrela não deixa dúvidas quanto à meditação que se propõe : a da sublimação de toda a materia prima, a quinta-essencia. Da forma mandálica fazem parte as outras quatro estrelas e o corpo-fogo ou fumo (sublimação) do dragão de duas cabeças.
O poema que acompanha a gravura reza o seguinte :

Somos de todos os metais
Princípio e natureza primeira.
A arte faz de nós pelos seus trabalhos
A tintura mais admirável.
As águas e as fontes puras
Assemelham-se a mim. Alivio o sofrimento
Dos pobres e dos ricos também.
Sou visível e puro espírito .

Mercurio



Mercurio preside a múltiplas actividades: (Ms. c.1400)
As rotinas do quotidiano estão presentes, tanto quanto as mais misteriosas de estudo ou transformação da materia (materia prima, que pode ser figurada pela serpente ou pelo dragão, ou ainda por algum dos quatro elementos que o bestiário alquímico represente, o peixe para a água, o pássaro para o ar, etc. )
Há algo de excessivo nas atitudes das personagens, algo de boscheano, de apocalíptico, que tanto remete para a Nave dos Loucos de S.Brant, como para a abadia de Thelème de Rabelais, com a sua máxima "fais ce que vouldras", faz o que quiseres.
Entenda-se por este conjunto de sinais que a cada um será dado seguir o seu caminho próprio e não outro imposto por qualquer sabedoria omnipotente, pois tal coisa não existe.
Viver a vida , na sua multiplicidade, diversidade, contradição - só isso levará à plenitude. E só a plenitude se pode aproximar da perfeição da Pedra filosofal.
Cito o final de um poema alquímico em que o autor define a seu modo a loucura bemfazeja da Obra:

Cantique des Aigles
....
Vide fécond,Terre affermie,
Réseau d'or animant le tout,
Infime point, rose, cadmie,
Merveille vive au coeur du fou !

( in E.Perrot, Coran Teint, 1979 )

Saturday, November 18, 2006

Saturday, November 11, 2006

O Livro da Felicidade



MOLEIRO EDITOR anuncia para 2007 o fac-simile deste tratado do século XVI pertencente à Biblioteca Nacional de França, onde foi depositado pr Gaspard Monge (1746-1818) que o trouxe do Cairo para Paris.
Este LIBRO DE LA FELICIDAD foi traduzido de um original escrito em árabe por ordem do sultão Murad III (1574-1595).
Descreve os doze signos do zodíaco, representados em mniaturas de grande inspiração e delicadeza ; contém pinturas que mostram o ser humano em diversas situações da sua vida, conforme a influencia planetária ; um folio apontando o carácter das mulheres de acordo com os seus dotes físicos mais ou menos avantajados (nesse tempo gordura era formosura e marca de se ser boa parideira ); e ainda um conjunto de tábuas astrológicas e astronómicas e um tratado de adivinhação.
Por este último se poderia chegar a uma relação com as matérias alquímicas da época, em que a tradição árabe, tanto quanto a ocidental, nesse tempo abundava.