Wednesday, March 15, 2006

A serpente

Bachelard define o arquétipo da serpente como "raiz animalizada, traço de união entre o reino vegetal e o reino animal".A serpente dorme sob a terra, esconde-se nas cavernas, no mundo negro onde não entra luz, como o mundo dos arquétipos vindos do mais longínquo inconsciente(segundo Jung), pertencendo a uma vida que se encontra distante da nossa vida individual, quotidiana, mas sendo antes uma vida emanada do que se define como "arqueologia" psicológica.
Os arquétipos são símbolos arcaicos, e são mais do que isso: são "símbolos motores", dinâmicos na função que exercem, activando as nossas emoções e impulsos mais instintivos, mais primitivos.
Diante da serpente que surge e nos assusta, recorda Bachelard, o impulso do medo, do recuo, é uma herança ancestral de todo o passado da espécie, e não apenas um resultado do nosso medo imediato.
Quando no sonho surge a imagem da serpente o que ali se diz é que existe uma emoção que perturba, não se entende, não está, para o sonhador, ainda "clarificada". Falta precisamente a "luz" da compreensão racional.
A representação do OUROBOROS, a serpente que morde a cauda e que já podemos encontrar nos alquimista gregos e na maior parte dos que lhes sucedem, simboliza o eterno movimento da vida (e não a vida eterna como alguns dizem).
Marie-Louise von Franz no seu estudo sobre O TEMPO ,O RIO E A RODA (Le Temps, le fleuve et la roue, trad. Didier Pemerle, ed Chêne, 1978) percorre as religiões mais antigas desde a chinesa, a hindú, a egípcia, a azteca ou a maya, recuperando na iconografia e nos textos mais conhecidos o arquétipo da roda, ou do dragão, ou da serpente, ou do mero círculo gravado na pedra, a indicação de que o tempo "é um ritmo" e o ritmo a sua medida verdadeira, algo de que os alquimistas sempre tiveram consciencia: daí que à "rubedo " da perfeição, passagem ao vermelho marcando o fim da Obra, muitas vezes indicasssem logo que a ela se seguiria uma nova fase de "nigredo", passagem ao negro, melancolia da alma com todo um recomeço (que nos casos da depressão psicológica) era difícil de aceitar.
Diz M.L.von Franz: " Podemos comparar o tempo a uma roda que gira: o nosso tempo vulgar, aquele de que temos consciencia, seria o anel exterior de um conjunto de circulos concentricos; é o que envolve o tempo eónico, mais lento porque mais perto de centro, tempo do ano platónico, ou do sol dos aztecas, cuja duração é maior do que a do nosso tempo vulgar. Depois vem o illud tempus de que fala Mircea Eliade, situado entre tempo e não-tempo, representando um momento extra-temporal da criação.O centro é o sem -fundo, que não gira, o vazio, a imobilidade permanente fora de todo o movimento, como o TAO chinês descrito para além do ritmo do Yin e do Yang de toda a criação.

Por aqui se vê como como a serpente é uma representação simbólica complexa, como tudo o que respeita à dinâmica da vida. Dá a vida e tira a vida- recorde-se agora o Génesis: consegue tentar Eva e os nossos supostos pais fundadores são expulsos do Éden perdendo a possibilidade da vida eterna.

Goethe, no CONTO DA SERPENTE VERDE (Marchen) de que me ocupei em obra publicada nas edições da Universidade Nova em 1975, faz do arquétipo da serpente o modelo mesmo da transformação, individual e colectiva. Com a intervenção da serpente o par alquímico do principe e da princesa reúne-se e regenera o reino à sua volta, enquanto a serpente, também ela servindo um propósito social, se transforma em ponte, unindo as margens do rio. Goethe, como bom conhecedor da alquimia, não esquece que em toda a realização individual existe uma dimensão universal.

8 comments:

Awmergin said...

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Anonymous said...
This comment has been removed by a blog administrator.
Anonymous said...

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