Wednesday, July 26, 2006

LUANCO, LA ALQUIMIA...


Um acaso feliz permitiu-me encontrar a obra de Luanco sobre a Alquimia em España, repositório de descrições de códices e transcrições de textos encontrados nas bibliotecas de Madrid, de Sevilha e outras. É um volume precioso para os estudiosos de alquimia que não possam, como ele fez, dedicar-se aos arquivos que percorreu para dar o seu contributo de grande erudição nestes domínios.
O volume que cito é a reedição fac-similada dos dois volumes publicados em 1889 e 1897, na EDITORIAL ALTA FULLA, de Barcelona.Do seu conteúdo seleccionarei, com tempo, um dos códices mais interessantes, as COPLAS DE DON LUIS DE ÇENTELLAS( sic ).
Recordo, para entendidos que, como disse um sábio que Luanco, ele próprio decano de química e Reitor da Universidade de Barcelona, gostou de citar, a química actual é " a filha sábia de uma mãe louca": la hija sabia de una MADRE LOCA.
Don Luis viveu no século XVI, foi um dos três mais destacados alquimistas do seu tempo (primeira metade do século) juntamente com o Dr.Manresa a quem escreve, em carta datada de 1552, sobre matéria alquímica do interesse de ambos; Luanco acrescenta ainda Baltazar de Zamora como igualmente distinto.Eis a primeira das "coplas"sobre a pedra filosofal:

1
Toma la dama que mora en el çielo
ques hija del sol sin duda ninguna,
y aquesta prepara en bagno de Luna
do labe su cara de su negro velo
despues si pudieres al sol y al ielo
en el mismo banno la tenga en prission
hasta que purgada de su imperfeccion
nos sea lucero acá en este suelo.

Desde logo surgem o sol e a lua como pai e mãe da Obra que vai decorrer, por via húmida (em banho, e não em fogo) até que a perfeição conseguida se transforme em astro iluminando este mundo.
A Pedra é feminina, referida como "dama" e a não ser confundida com qualquer espécie animal ou vegetal - como o autor explicará na segunda e na terceira estrofes. É esta descrição feminina da Pedra Filosofal que levará Jung, nos seus estudos, a identificá-la com uma projecção da ANIMA do adepto.

2
No entiendas que es obra de algun animal
ni menos es planta que nace en el suelo
mas es una dama que vive en el cielo
de allí nos la baxan esta obra real
y para nosotros es tan natural
que nuestros cuerpos con ella curamos
y los imperfectos perfectos tornamos
de todos secretos el mas principal.

3
Y quando tu bieres la dama hermossa
así preparada por nuestro artifiçio
has que la pongan en otro exerçiçio
á donde se vea tan maravillossa.
Juntalda luego con la otra cossa
por el matrimonio do se a de engendrar
el hijo mas noble y mas singular
que el padre y la madre y mas preciossa.


A referencia ao "matrimónio" e ao filho que dele há-de nascer é o que permite que se defina a conjunção de opostos (sol e lua,água e fogo, negro e branco,etc.) como o processo mais subtil de que nascerá o philius philosophorum, que podemos ver representado em tantas e tantas gravuras antigas.
Adiante o alquimista explicará ao adepto que se trata de macho e fêmea e que na dupla dimensão física e metafísica se entenderá o processo.Com o passar do tempo, e o receio aumentado de perseguições, dado que existiram e não foram poucas, a linguagem alquímica se "espiritualizará" mais, e se tornará mais confusa e de algum modo esvaziada do que podia ser o seu alcance profundo. A Perenelle de Flamel, companheira da Obra, Maria Profetiza, iniciada e iniciadora, desaparecerão por trás de uma simbólica pretensamente divina onde até Jesus e a Virgem como representações da Pedra terão o seu lugar.

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