Friday, January 25, 2008

Mitos



Alguns leitores enviaram-me e-mails com perguntas sobre os mitos de Cybele e Attis.
Datam dos primórdios da nossa civilização, havendo vestígios arqueológicos na Anatolia que remontam aos sécs. 7-6 A.C.
O culto de Attis surge no seguimento do historial do culto de Cybele (grego) ou Kibebe ( na pré-história anatoliense) ou ainda Meter que evoca desde logo Mãe - sendo todos estes nomes as variantes do culto da Grande-Mãe, da Deusa-Mãe, ou ainda da Mãe -de-todos-os deuses.
Há dois livros que recomendo aos que desejem aprofundar estas matérias:
PHILIPPE BORGEAUD, La Mère des Dieux, de Cybèle à la Vierge Marie, ed. Seuil, 1996
Aqui se retraça o mito primordial passando pela sua helenização, romanização e cristianização.
E ainda outro livro que a meu ver se torna precioso, por revelar todos os vestígios encontrados nas escavações arqueológicas; é documentado com abundantes e sugestivas fotografias das primitivas cavernas, das primitivas imagens esculpidas na pedra, datando as mais antigas de milénios antes da nossa era.A autora é perita em arqueologia e religiões antigas, e é Philippe Borgeaud que indiquei acima quem faz o seu elogio na contracapa do livro:
LYNN E. ROLLER, In Search of God the Mother,the cult of anatolian Cybele, California University Press, 1999.
Leitura apaixonante, porque revela como desde que o homem adquiriu consciência de si e do mistério do mundo, desde logo procurou uma comunicação que criasse laços "estáveis" garantindo fertilidade e abundância, regularidade nos ciclos naturais e pouco a pouco nos próprios, à medida que os cultos ,desta como doutros deuses se organizavam e tornavam "citadinos", na Grécia e sobrtudo na Roma antiga.
Ficava mais longe a caverna, a floresta, a natureza primitiva, mas permaneceu durante séculos, no interior do templo, o tumulto dos rituais sangrentos, de imolação, de autocastração, que levam Catulo a escrever:
"Dea magna, dea Cybebe, dea domini Dindimy
procul a mea tuus sit furor omnis, era, domo:
alios age incitatos, alios age rabidos"(Catullus, 63. 91-93)
traduzindo:
Grande mãe, deusa Cybele, deusa e senhora de Dindymus,
possa toda a tua loucura, Senhora,ficar longe da minha casa.
Conduz outros ao frenesim, conduz outros à loucura.

2 comments:

Sérgio A. Correia said...

Seria interessante saber como e de que processos o cristianismo (ou terá sido o judaísmo?) se valeu para escamotear o "lado feminino" de Deus.

Anonymous said...

Gracia!
'Moriae'