Saturday, September 23, 2006

Amplificatio



Não há talvez melhor exemplo literário da amplificatio alquímica do que o romance LARVA de Julián Ríos, em quase todas as suas páginas, que devem ser saboreadas com prazer rabelaisiano. Sendo ele mesmo um autor deglutidor voraz, pantagruélico a seu multi-modo!
Aqui deixo os exemplos, que falarão melhor por si do que eu por eles:
32.
Glosa a glosa, golosa...
Golosa? murmuré o, mejor dicho, murmuró Babelle inclinándose sobre el Ficcionario. Aqui dice Infernáculo...
(Saboreaban lentamente cada palabra, dándole vueltas, como un caramelo.Golosina a glosina...)
El Ficcionario de la lengua ! La novela de las palabras ! Tesoro de palabras contantes y sonantes !...
A veces una sola palabra se convertia en todo un festin para esos poliglotones.

O par alquímico, o autor com a sua babélica Babelle, depois de se deleitarem- deitarem nas folhas que desfolharam do seu Ficcionário mágico, passarão à fase contrária- a da condensação.
Na amplificação toda a Obra se desdobra, na condensação toda a Obra se reduz ao que virá a ser : um ponto no centro da esfera (espera) da vida ou da sabedoria que entretanto se adquiriu ao longo do longo processo, por excesso !

No Jardim Perfumado , descrito nos 9 pontos que podem ser lidos mais acima, o fim é mesmo um fim:
Sic, moro.

A anulação é um fim, mas permite um eterno recomeço.
É esse afinal o segredo.

5 comments:

Anonymous said...

e fórmulas/formas de iniciar o processo?
cogumelos?
é curioso, porque quem ouve falar nisso, se não tiver algo "real" que sirva de entrada vê a coisa como simples filosofia/metáfora.
pergunto de novo: cogumelos?

Yvette Centeno said...

Não, Cj, livros, a ideia é mesmo ler...
Antes da amplificatio passará pela nigredo!...
(Dom Pernety)
Obrigada pelo comentário, e boa refeição espiritual.

Yvette Centeno said...

Vejo que tem excelente gosto musical.Com a Amália e com o jazz o que o CJ vive é também uma amplificatio: uma abertura da alma.
Expansão da alma e dos seus sentimentos mais felizes, positivos.

Anonymous said...

de acordo; se bem que, ao fazer a questão, tenha a resposta em vista.
o que eu quero dizer é que a experiência do nigredo, amplificatio, entre outras fases que pertencem ao domínio poético/metafórico são, de facto reais e - aí está - podem também ser amplificados por outros meios.
recordemos que a alquimia, muito antes da química existir como ciência, conhecia certas formas não convencionais de "acelerar" ou iniciar o processo de transformação.
que é, como diz, possibilitado pela abertura da alma, seguindo depois os processos seguintes conforme a estrutura psicológica do indivíduo.
penso que a leitura é essencial, mas sem a definitiva experiência "vivida", no sentido mais terreno do termo, será apenas filosofia.
certas experiências obrigaram-me a repensar a utilidade da teoria separada da prática.
aliás, a prática "obrigou-me" a aceitar, a certificar-me e a interiorizar a teoria, que se confirma passo a passo.
obrigado pelos textos.
ainda terei que explorar devidamente o blogue, que conheço há pouco tempo.

Yvette Centeno said...

Caro Cj,
Veja pelos livros que Henri Michaux escreveu (ele fez experiencias psicadélicas, com cogumelos mexicanos e não só, retirado nas altas montanhas da Suiça onde se refugiava por vezes ) a conclusão a que chega: a droga cria a ILUSÃO de uma libertação criadora maior, enquanto de facto quem a usa vai perdendo toda a capacidade que antes tinha.Sendo ele um poeta e pintor genial este aviso é precioso.
Conheci o Henri Michaux pessoalmente, e foi ele quem me indicou o Mestre e Alquimista Junguiano com quem estudei durante bastantes anos.