E ele responde, directo e com simplicidade (os sonhos são assim, falam claro; a questão é depois dar sentido ao que nos deixam dito).
Desde que transcrevi o sonho-poema - é o relato de um sonho, mas não deixa de ser poema- que procuro entender a "lição".
Entendo em parte: é pedido sal, o sal da vida, o sal que nos três princípios alquímicos de enxofre, mercúrio e sal, serve de medianeiro transmutador. Sem ele nada acontece.
Mas há ali algo mais, e nisso tenho ficado a pensar, dias e dias a fio; continuo intrigada. O sal que fui buscar não estava limpo...tinha coisas lá dentro, pegajosas, que fui tirando...
Eis o poema, quem sabe alguém se reencontra nele ou me diz qualquer coisa.
Perdi há anos o meu alter-ego leitor, clarividente, eis-me cega neste momento para as ajudas que sempre julguei ter.
O SAL
Chega o Desconhecido
na sala aberta
fica de pé
encostado à parede
olha à volta
e aguarda
pergunto
deseja alguma coisa?
ele acena e responde:
sal
sal? repito eu
com algum espanto
sim
procuro a caixa grande
para tirar o sal
que lhe vou dar
o sal não estava branco
havia coisas lá dentro
escuras
pegajosas
remexi com as mãos
para limpar
dirão é bom sinal
o sal purifica
protege
mas eu hesito:
mesmo assim
estando sujo?
Numa leitura alquímica o sentido é aparentemente simples: purificar o negro, sublimar a matéria imperfeita; mas na vida...
Aqui deixo o enigma aos meus leitores. Quem sabe se me ajudam.