Descubri por acaso uma pequena editora que se propõe divulgar temas herméticos, como este da Iniciação, dos símbolos maçónicos e outros semelhantes, através de livros de baixo custo, acessíveis a qualquer um que se interesse por aprofundar os seus conhecimentos de simbologia e alquimia (no fundo é a simbólica alquímica que está na base destas matérias que no ocidente surgiram a partir da Idade-Média e foram sendo absorvidas por diferentes movimentos e doutrinas, como as maçónicas.
A editora é a MAISON DE VIE ÉDITEUR.
E o pequeno livro a que me refiro, da autoria de François Ariès e Anne Ménestier, QU'EST-CE QUE L'INITIATION?, (2010).
Os autores são maçons, daí que sublinhem o espírito de irmandade, ou de fraternidade (se nos reportarmos aos ideais dos Iluministas franceses, que conduziram em parte à Revolução de 1789): Liberté, Égalité, Fraternité.
Parece uma contradição: pois o caminho da espiritualidade, conduzindo a uma revelação que é individual, mística e dificilmente partilhada com quem não viveu experiência igual, poderá desenvolver no indivíduo um olhar mais fraterno sobre o seu semelhante, mas não poderá torná-lo idêntico a si mesmo, nem à nova Liberdade, puramente interior, que terá adquirido pelo caminho.
A Iniciação é uma proposta de caminho a percorrer em conjunto, segundo estes autores. E de acordo com o modelo de que eles são participantes activos.
Mas na realidade a simbólica maçónica, bebida em rituais antigos, em parte na cultura egípcia (a grande voga do século XVIII na Europa culta) e em parte nos tratados de alquimia orientais e ocidentais que desde a Idade-Média foram chegando até nós - não esgota o imaginário da transformação que já no século II-III da nossa era, em Alexandria, se tornava patente em filósofos herméticos como Zosimo.
Os autores salientam neste opúsculo "que o espírito de corpo vivido numa fraternidade (entenda-se numa Loja Maçónica) ligada à construção dum Templo" conduz a mutações incessantes. Mas o que são elas?
Individuais, por certo; sociais e políticas também: pois onde se ergue um Templo se constrói uma civilização.
Contudo há uma diferença grande, entre esta Utopia (do indivíduo ancorado numa sociedade secreta emulando o Antigo Templo, a antiga Sabedoria, que se perdeu para sempre, segundo a lenda) e a meditação constante e renovada dos antigos alquimistas.
Para estes o templo é o seu próprio corpo, a sua própria consciência num TODO de razão e emoção, consciência e inconsciente, sendo que é deste fundo obscuro que todos os símbolos nascem, se formam e transformam, levando à própria transformação do adepto: ele é o Templo, e é nele que a busca se torna operativa.
Curioso acaso, recebo hoje a informação, das Edições Moleiro, que foi lançado o fac-simile do Splendor Solis, obra maior de Salomon Trismosin, que conhecemos como autor de La Toison d'Or (edição francesa de 1612, a partir do texto alemão de 1598); trata-se da mesma obra que em edição mais modesta foi publicada em França pela Bibliotheca Hermetica, em 1975, na colecção dirigida por René Alleau (grande erudito que é bom recordar).
As iluminuras são deslumbrantes, ricas de simbolismo e acessíveis pelo google a uma seriação completa, podendo nós ficar em contemplação perante qualquer delas durante todo o tempo necessário.
Compreendo e acho estimável o esforço dos autores do pequeno livro que pretende, e isso é dito logo de início, apenas dar testemunho de uma iniciação pessoal que se considerou feliz.
Está muito bem.
Mas fazem falta referências, verdadeiras propostas de leituras, como esta de Trismosin que deixo aqui, já que mãos sabedoras o trouxeram de novo ao convívio dos adeptos curiosos.
A sabedoria alquímica, humilde, paciente, transformadora é a que mais falta nos faz a todos, nestes dias presentes.