João Tinoco continua a sua bela obra de edição de autores que merecem ser conhecidos entre nós, como é o caso de Faouzi Skali: nascido em Fez, Marrocos, Doutor em Ciência das Religiões, fundou em 1994 o Festival de Fez de Músicas Sagradas do Mundo e em 2001 cria os Colóquios Internacionais "Uma Alma para a Mundialização". Em 2007 dá início ao "Festival da Cultura Sufi", que se mantém regularmente. Faz ainda parte do Grupo de Sábios nomeado pela União Europeia para uma reflexão sobre o "Diálogo entre os Povos e as Culturas no Espaço Euromediterrânico".
Sendo Faouzi ele próprio um Sufi, quem melhor do que ele para nos falar de Jesus na Tradição Sufi - título desta obra editada por João Tinoco, fiel à sua vocação de criador contemplativo.
A obra é importante, num momento em que alguns tanto desejam separar a inspiração das religiões do LIVRO. A doutrina Sufi não separa, antes une - pois os místicos sempre se encontram no íntimo dos seus corações, onde a Divindade e a sua palavra mágica de transformação se revela.
Henry Corbin foi um dos grandes Mestres que ajudou a entender a doutrina Sufi, as suas raizes, a inspiração cristalizada na obra de Ibn' Arabi ( 1165-1240). Uma das obras que mais gostei de ler: L'Imagination Créatrice dans le Soufisme d'Ibn'Arabi. Mas é vasta a sua bibliografia, pouco acessível entre nós, e agora temos este livro-companheiro para uma melhor compreensão de um dos grandes pilares da mística iraniana, organizado em torno da figura central de um Jesus feito de compaixão e amor.
Deixo uma ideia ao João Tinoco: a tradução para português do Chant de l'Ardent Désir de Ibn'Arabi, na selecção francesa de Sami-Ali (ed. Sindbad, Actes Sud, 1989). Quem sabe se ainda nos aproxima mais do Cântico dos Cânticos, ou do Libro de Amigo Y Amado, obra-prima de Ramon Lull (c.1232-1315) mostrando como era grande, ao tempo, o convívio de múltiplas linguagens místicas - tal como hoje se deseja, alargando o seu espaço às múltiplas linguagens seculares. É só um o coração do Universo, num só eterno pulsar.