Tuesday, February 20, 2007

Chymisch, Alquimico

Alquímico este poema, escrito em 1961, onde a marca mais forte é a da BODAS QUÍMICAS de Christian-Rosenkreutz... manifesto fundador do Rosicrucismo alemão e europeu, cujo autor, Johann Valentin Andreae, durante algum tempo se escondeu em anonimato tranquilo. Na realidade é uma obra do século XVII que conheceu grande sucesso, imediata divulgação e foi, já nos séculos XVIII- XX estudada e recriada por adeptos e poetas que nela bebiam a sua inspiração: Goethe foi um deles, Pessoa também citou, talvez em segunda mão V.Andreae, mas houve muitos mais, sobretudo os praticantes do surrealismo bebido em Freud ou na teosofia em moda.
Yvan Goll terá sido uma das influências que neste campo Paul Celan sofreu. Magia e alquimia faziam parte da experimentação, da alquimia do Verbo, Breton não esquecia o seu Rimbaud e todos bebiam num imaginário mais luminosos ou mais obscuro, conforme a sensibilidade de cada um.
Em Celan não é de admirar que a sombra brilhe mais do que o sol.
Para completar o nosso entendimento desta alquimia da alma, que nada tem a ver com a transmutação do chumbo real em ouro possível, será útil ler ainda poemas como GELO, EDEN ; SOLVE,COAGULA e alguns outros em que elementos como o fogo e a água tomam parte, metaforica e simbolicamente.
Mas passemos a Químico, ou Alquímico, como prefiro agora. Faz parte do conjunto intitulado A ROSA DE NINGUÉM, onde se incluem os referidos acima, e outros de igual valor, como TERRA NEGRA ( sendo a terra negra a materia prima da Obra alquímica, como se sabe ).

ALQUÍMICO

Silêncio, derretido como ouro, em
mãos
carbonizadas.

Grande, cinzenta,
próxima como tudo o que se perdeu
forma-irmã:

Todos os nomes, todos aqueles
nomes queimados
em conjunto.Tanta
cinza para abençoar.Tanta
terra ganha
sobre
os leves, tão leves
anéis
da alma.

Grande. Cinzenta. Sem
escórias.

Tu, outrora.
Tu com a pálida
flôr mordida.
Tu na torrente de vinho.

(Não é verdade que também a nós
nos despediu este relógio?
Bem,
bem, como a tua palavra morreu passando por aqui.)

Silêncio, derretido como ouro, em
mãos
carbonizadas, carbonizadas.
Dedos, finos como fumo. Como coroas, coroas de ar
em--

Grande. Cinzenta.Sem
rasto.
Ré-
gia.


Deixo que o leitor abra o texto e o respire, lembrando que pode ainda ler mais, em A VIA RÉGIA,do ciclo "A Cerca do Tempo".
Verificará que o caminho de sublimação da via alquímica é aqui impedido por uma dissolução ( do ouro que se derrete) nas trevas, nas cinzas das mãos carbonizadas. Nigredo poderia ser o outro, verdadeiro nome do poema.

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