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Na Inglaterra do século XVI o pensamento hermético floresceu de modo intenso e livre, talvez porque os sucessos e atribulações do reino no tempo de Isabel I despertassem na rainha como nos seus súbditos uma curiosidade maior sobre os seus destinos e os destinos do mundo.
John Dee fora astrólogo real, para além das suas muitas outras qualificações.
George Ripley foi de igual modo influente, no pensamento como na acção, não se coibindo de descrever em pormenor o elixir de longa vida cujo segredo lhe foi revelado numa visão que descreve.
A obra que apresento aqui recupera a edição de 1591, para a tradução francesa, com introdução e notas de Bernard BIEBEL,ed. GUY TRÉDANIEL, 1992.
Contém as DOZE PORTAS DA ALQUIMIA, A VISÂO DO CAVALEIRO GEORGE e o TRATADO DO MERCÚRIO.
Na VIsão conta como um sapo se transforma diante dos seus olhos passando o seu corpo pelas três fases indicativas da obra: a nigredo, a cauda pavonis, a albedo e por fim a rubedo, côr que se fixa não se alterando mais; a partir daí, diz Ripley, preparou a sua Medicina, "que mata e que cura o que se arrisca a tomá-la".
Frances Yates, em THE OCCULT PHILOSOPHY IN THE ELIZABETHAN AGE (impres. digital 2006 ) chama a atenção para a herança medieval ( com LULL) e renascentista com Pico della Mirandola nesta paixão pelas matérias ocultas que se verifica na Inglaterra do século XVI. John Dee, o mago da corte será a figura mais marcante, mas Ripley é outro dos autores a salientar.
A marca do imaginário hermético pode encontrar-se em Shakespeare, no seu Próspero ( The Tempest ) ;
o gosto ( ou o medo) de feitiços e bruxas também é testemunhado no dramaturgo, e Yates dedica um capítulo do seu livro precisamente a " Shakespearean Fairies, Witches, Melancholy: King Lear and the Demons".
Os pactos com o diabo ou suas feiticeiras são conhecidos desde as aventuras de Fausto, de que Marlowe se ocupará;
os alquimistas serão tema da comédia paródica de Ben Jonson ( The Alchemist );
e em Spenser (The Faerie Queene ) Frances Yates encontra também a simbólica hermética neo-platónica de que Shakespeare e outros davam testemunho.
Na Europa vivia-se igual momento.Não é por acaso que Duerer grava a sua Melancolia 1 (1514 ), e Lucas Cranach pinta a sua bruxa melancólica ( 1528 ).
No quadro de Cranach vemos a jovem bruxa sentada a olhar para 4 crianças ( os quatro elementos ) no chão a brincar com um cão (sendo que o cão é o "fiel companheiro" da obra).