Pintar o Sete
Este seria o livro a ler, de Mestre Lima de Freitas sobre Almada Negreiros, poeta, pintor, dramaturgo, fundador com Fernando Pessoa e outros do Futurismo em Portugal.
Um 7 que no seu caso, de grande conhecedor, teria muito a ver com o quadrado mágico da Melancolia de Duerer, em que o n.34 é obtido em todas as somas que se façam dos números inscritos no seu interior.
O 34 remete para um 7, na sua soma, se a desejarmos simbólica e relacionada com o Axioma de Maria Profetiza, que Jung estudou nas suas obras relativas à alquimia e seus símbolos: " do Um nasce o dois, do dois nasce o três e do três nasce de novo o Um como quarto.
Este quarto elemento é o 4 da Totalidade, que o Um inicial em si continha.
Do mesmo modo, por analogia (simbólica) o 7 que resulta da soma do 3 e do 4 é figuração da Totalidade: três princípios e quatro elementos formam a estrutura base do que será o caminho da Obra oculta.
Nas civilizações antigas, como a Assíria, a Egípcia, a Maia, este número tem implicações que o ligam à simbólica e ao imaginário celestial: os 7 planetas que os sábios astrónomos podiam contemplar nos céus escuros, por exemplo. E os deuses que eles representavam.
Na tradição judeo-cristã, descobrimos logo no Génesis o 7 como número da perfeição, pois foi no sétimo dia que o Criador repousou, consagrando esse dia como dia de uma totalidade que podia ser admirada e venerada em especial.
Passo adiante o conhecimento geral dos 7 dias da semana, e a totalidade do que são as energias, os ramos das árvores de iniciação, as virtudes e categorias morais, etc.
Tudo se encontra num bom Dicionário dos Símbolos, como o das edições Robert Laffont, de que em geral me sirvo.
Na tradição grega o 7 está relacionado com o deus Apolo: as suas festas eram celebradas no sétimo dia do mês. E recordemos as sete cordas da lira, as sete portas de Tebas, etc.
Mas também na China, as festas populares tinham lugar a um sétimo dia: com os sete emblemas de Buda.
Na peregrinação a Meca, são sete as voltas a dar.
Esta presença do sete, tão generalizada, tem certamente a ver com a contemplação dos céus e os seus indecifráveis mistérios.
Como se nesse número se concentrasse a totalidade do espaço e do tempo (simbólico, religioso).
Sobre a magia da matemática não tenho competência para me pronunciar e não o farei, lembrando contudo que os antigos sacerdotes eram matemáticos, além de astrónomos, e já na nossa era igualmente alquimistas, como Zosimo de Alexandria (séc.III) e Maria Profetiza.
Diz-se que Hipócrates terá feito a seguinte afirmação:
"o número sete, pelas suas virtudes ocultas, sustenta no ser todas as coisas; dispensa a vida e o movimento, influenciando mesmo os seres celestiais".
A carga dinâmica deste número pode ser assustadora, como no Apocalipse de João: recordo apenas as sete cabeças, as 7 pragas, mas podemos ler no texto a sucessão de referências.
Para quem se interesse pelo budismo, encontramos no Livro Tibetano dos Mortos uma "intensificação" das energias do 7:
sete vezes sete = 49.
Este é o número do Bardo, o estado intermédio em que se penetra depois da morte, até renascer de novo ou entrar na redenção final. O 49 divide-se em 7 períodos transitórios, de sete dias cada, enquanto são feitas as rezas junto ao corpo do morto.
A simbólica do número permite ainda que se jogue com outros modelos: 70, 700, 7000,e por aí adiante.Mas só um especialista na Gematria nos poderia ajudar!
D.Francisco Manuel de Melo, no seu Tratado da Ciencia Cabala, expurgou a Gematria, proibida pela Inquisição. Contudo não deixa de ser muito interessante, para um estudioso dos mistérios, esta obra do século XVII.
Por mim gosto da meditação no Axioma de Maria: do Um ao Todo, um imenso caminho a percorrer...
Tuesday, November 05, 2013
Monday, September 30, 2013
Richard Zimler
Recebi hoje pelo correio um pequeno livro que me interessou logo pelo título.
De Richard Zimler, LOVE'S VOICE, 72 Kabbalistic haiku, de 2010 e julgo que sem tradução portuguesa, por enquanto.
No título, a junção da Kabbalah, da tradição judaica e mística medieval com os Haiku, da tradição japonesa igualmente antiga e marcando um imaginário literário e místico não menos importante, despertou-me a curiosidade: Zimler revelava-se já, sem que eu tivesse lido ainda o livro, um autor culto, um estudioso, como se vem a descobrir no prefácio que escreve, das religiões comparadas.
Cita duas fontes que são fundadoras para qualquer estudioso:
Gershom Scholem, Major Trends in Jewish Mysticism, e Mircea Eliade cujos vastos estudos na área da História das Religiões, Lendas, Mitos e Símbolos não podem ser ignorados.
Zimler, nascido em Nova-Yorque no seio de uma família judaica, ao radicar-se em Portugal dedicou-se ao estudo, que transformou em ficção regular, da nossa ancestralidade judaica, origens e destinos. O ÚLTIMO KABALISTA DE LISBOA foi o romance que o tornou conhecido, entre nós e no mundo.
Estes 72 exercícios de meditação subtil sobre a essência do amor e da vida, que encontrou talvez na leitura do ZOHAR, o livro do Esplendôr, ou quem sabe na mais prática e não menos subtil visão do TAOÍSMO original, são de leitura agradável e descomplicada na aparência, encerrando quem sabe a chave da sua escolha de Portugal para viver...Aqui pode ser um tranquilo anónimo, e ainda que saboreando o seu sucesso de escritor, viver no coração de um silêncio que aprendeu a amar:
Your soul will begin
to sense its depth when you stop
running from silence.
A tua alma começará
a sentir a sua profundidade
quando parares de fugir ao silêncio.
Assim começa o livro.
E assim acaba:
You will never solve
ev'ry mystery - God is
not a whodunit!
Nunca poderás resolver
todo e qualquer mistério -
Deus não é um qualquer!
Deus não é um qualquer!
Há pelo meio secretos acenos:
Dreaming of Moses
parting the Sea, I awake
in the Promised Land.
Sonhando com Moisés
dividindo o Mar, despertei
na Terra Prometida.
Ou por exemplo outro caso, de "diálogo" com a Bíblia, e a moral do Génesis:
Eve separated
from God but woke to her self:
Paradise exchanged
Eva separou-se de Deus
mas despertou para si mesma:
Troca de Paraíso.
Não vou retirar aos leitores o prazer de folhear, ler ou reler e descobrir as afinidades que possam ter com esta forma de pensar o pensamento. Eu encontrei muitas, comigo mesma, outrora e agora.
Por isso deixo aqui uma discreta homenagem. É um livro de conversa, não é um livro de conversão...e assim podemos voar um pouco com um Anjo de Rilke, apenas no seu pressentimento, pois vê-lo seria morrer de tanta e forte presença, podemos assistir à fusão deslumbrada do ouro de um alquimista, sonhar à beira de um rio de margens infinitas, ou como Jacob na sua escada descobrir no último degrau que é ele mesmo, o Homem, o oculto rosto de Deus.
Wednesday, February 06, 2013
Mitos:Nacionais, Universais...
Mitos Nacionais/Universais /Mitos ou lendas populares
O que é um mito: uma
narrativa fundadora, de dimensão simbólica, nacional ou universal.
Mitos nacionais (portugueses)
:
Dom Sebastião e os mitos do
Encoberto; Dona Inês de Castro,os mitos de amor eterno de Dom Pedro e Dona
Inês;as Cartas da Portuguesa, outro mito do amor eterno, de autoria francesa,
mas atribuídas a uma monja portuguesa do século XVIII ; ainda fazendo parte
deste corpus literário e mítico a
história de base celta, de que Richard Wagner fez uma obra-prima, de Tristão e
Isolda;
em torno destas figuras
históricas se desenvolveu uma teia de construções literárias, pictóricas,
dramatúrgicas, em Portugal e na Europa.
Relação do mito do Encoberto
com Dom Sebastião.
A doutrina do Sebastianismo
como doutrina messiânica nacional e nacionalista: ex. Padre António Vieira e
Fernando Pessoa.
Mitos universais do Ocidente:
Fausto (entre outros, como o de Orfeu, o de Prometeu, o do Andrógino, bebidos
na tradição popular, no caso de Fausto, na literatura grega clássica, nos
outros casos; ou mitos mais recentes como o de D.João, o”Burlador de Sevilha”
ou o de Carmen, como mulher fatal, na opera de Bizet).
Ver o mito de Fausto no
Renascimento, no Século das Luzes ( Goethe,séc.XVIII), no Romantismo (Berlioz)
e na Modernidade (Pessoa e Valéry ).
O Fausto mudo de Murnau, a
ópera de Gounod, a performance dos Fura dels Baus inspirada em Berlioz – tudo
interpretações diferentes de um memo mito fundador, o do desafio do homem que
vende a alma ao diabo, o seu percurso, os crimes e a transformação final, de
redenção.
Papel que desempenha, nas
várias “leituras” do mito, a dimensão simbólica do Eterno Feminino.
Comentar as “duas almas” de
Fausto, que ele define como irreconciliáveis, na primeira parte da tragédia.
O que se perde e o que fica destes e de outros mitos no
nosso tempo…
II
Há muitas outras matérias que
ocuparam o imaginário popular e literário ao longo do tempo:
Ex.
as lendas dos vampiros na
Europa central: Nosferatu, primeiro filme de Murnau (pioneiro do cinema ainda
mudo, expressionista;em seguida faria o Fausto);
Drácula, filme também da
mesma época, com o célebre Bela Lugosi, no início dos anos trinta;
o Golem, inspirado num
romance célebre de Gustav Meyrinck, autor austríaco estudioso de todas as doutrinas e práticas ocultistas
divulgadas ao tempo : como a Kabala judaica, que inspira o Golem, a filosofia
taoísta, o yoga, a alquimia, etc, - em cada um dos seus romances uma doutrina
que ele explica, embora reservando o seu mistério.
O gosto pela sombra (pelo
mistério que perturba e atrai) não se perde, e vemos na literatura e na
cinematografia moderna mais recente a recuperação dos temas dos vampiros, dos
lobisomens (de que em Portugal também há variantes nos contos populares de
tradição oral) e até a recuperação do gosto pela magia e por figuras da antiga
tradição celta – como na saga de Harry Potter, já explorada até à exaustão para
um público juvenil.
Thursday, January 24, 2013
De Jean Cocteau (1889-1963) descubro agora em dvd um filme feito por ele e com ele, Le Testament d'Orphée, de 1960.
Imaginário mítico e simbólico elevado ao mais alto grau, em cenário surrealista, de que um Buñuel não desdenharia, e por onde passam grandes nomes do teatro e cinema: Maria Casarès, Daniel Gélin, Jean Marais, Yul Brynner, outros.
Do ambiente intemporal onde se atravessam limiares de morte e vida, luz e sombra, à vida de café boémio ( como no Café de Flore, à época) ou ao acampamento de ciganos, com flamengo, às piadas íntimas: chamar Éluard ao seu jovem guia, seu alter ego, num dos diálogos
-quel est son nom?
-Éluard
-un sobriquet? (alcunha)
-plutôt un pseudonime...
ou ao aparecimento fugaz de Picasso entre o grupo de pessoas que dum balcão espreitam Cocteau morto, e até a um dos vestidos que reconheci (sou desse tempo..) como um dos que se usou, da Boutique Elle, da revista do mesmo nome, nos Champs Élysées e que B.B. tornou célebre!
Mistérios do passado mítico atravessados pelo alegre incoformismo do imaginário poético de um surrealista que se definiu eterno, como a poesia!
A bela cena dos espelhos, que por um lado reflectem demais (ils réfléchissent trop...), por outro desvendam o lado de lá, o que se esconde de nós e somos nós na sombra, merece reflexão, atravessamento, como a história de Alice do outro lado do espelho...
É do lado de lá que a verdadeira vida acontece, a que devolve o outro a si mesmo, por via da criação, para sempre.
É do lado de lá que a verdadeira vida acontece, a que devolve o outro a si mesmo, por via da criação, para sempre.
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