Wednesday, March 26, 2008

Marcel Robelin



O meu encontro com a pintura de Marcel Robelin foi como um encontro comigo mesma.
Conheci-o em Paris, nos anos 70, e nos cadernos daquele tempo encontro as palavras que de cada vez que revejo um dos seus quadros se tornam mais e mais verdadeiras.
São obras de contemplação.
É como ter diante de mim a matéria primeira, matéria ainda por revelar, e que só gradualmente iremos entender, na sua profundidade, no seu mistério.
Robelin retira a matéria do seu vazio, da sua não-existência ainda, forma-a mesmo e sobretudo quando a deforma, encaminhando-a para essa zona de fronteira entre o ser e o não ser, a luz e a sombra de onde o saber emana.
São mandalas que incitam à meditação.
Fazem-me pensar na Obra dos alquimistas, também ela uma transformação, um momento "operante" que nos conduz eventualmente ao círculo, imagem da perfeição.
Parte do círculo, mas corrói-o por dentro, lembrando que toda a matéria é assim mesmo, algo de corroído, algo que aspira a ser, mas ainda não é, ou já foi, ou nunca virá a ser.
Um homem a ver-se ao espelho.
Despojamento, ascese.
Como se diz no Livro da Consciência e da Vida, antigo tratado de alquimia chinesa: "esquecendo a forma, olha para o interior".
Pela meditação da matéria se atinge, com Robelin, a esfera do espiritual. Humano, bem humano, pois é no homem que o espírito mora. Nós somos a morada, o vazio e o pleno.
Um artista é um eterno viandante, o seu caminho é o do mundo, onde só ele se pode reconhecer: em si mesmo e no outro que o reconhece a ele.