Sunday, October 22, 2006

Zosimus


Zosimus é um dos mais antigos alquimistas gregos cujos textos, datados do século III, chegaram até nós.
Estudados e publicados por Marcelin Berthelot ( 1827-1907 ) iniciam um conjunto do que foi a obra maior deste erudito, cientista de formação que, ao lado da história da química, se interessou pela da alquimia.A sua COLLECTION DES ALCHIMISTES GRECS foi publicada ao longo dos anos 1887-1888 e só em bibliotecas pode ser consultada.

Mas um novo projecto foi elaborado por outro especialista, H.D.SAFFREY, que se propôs editar em 12 volumes toda uma colecção de textos alquímicos gregos : desde os primeiros fragmentos de receitas, passando pelos "velhos autores", com os physica et mystica de Demócrito, Ostanès, Cleópatra, Comarius, Isis a Horus, Hermes Trismegisto, outros que surgem em volumes seguintes, remontando a Moisés. Muitos dos textos serão atribuições, conservar o anonimato era importante, mas não têm menos valor simbólico por isso.
O volume dedicado a Zosimo contém os tratados e fragmentos deste importante autor, talvez o mais influente para a alquimia pela sua dimensão visionária.
É uma tradição constante afirmar que a arte dos alquimistas tem origem nos santuários egípcios. Um manuscritos encontrado em Leiden em 1830 por um erudito holandês ( C.J.C. Reuvens, 1793-1835 ) veio confirmar esta tradição, tão grata aos adeptos.
No museu de Antiguidades da Universidade de Leiden estava conservado um papiro com um tratado químico, greco-egípcio.
HERMANN KOPP divulgou logo esta novidade na sua História da Química, mas foi sobretudo Berthelot quem fez jus ao mérito da descoberta.

Zosimus descreve uma série de visões em que supostamente são reveladas as principais fases da Obra, tal como vem a ser entendida.
Vê primeiro um altar em forma de taça a que se ascende por meio de uma escadaria.
Em três momentos diferentes aparece-lhe um sacerdote que será sacrificado diante dos seus olhos. Cada um desses momentos representa a natureza interior do visionário, com os seus diferentes níveis, que terão de ser sublimados para que ele atinja o altar do conhecimento ( também auto-conhecimento).
Temos aqui um paralelo com o "caldeirão" da sabedoria dos celtas, ou com a "taça" do Graal, que também se conquista através de sucessivas "purificações" e sacrifícios impostos.
Um sacerdote é cortado aos bocados e antes de ser consumido pelo fogo vomita-se a si próprio como homúnculo.
Um homem de cobre é destruído e renasce como homúnculo vestido de vermelho.
Surge um profeta idoso, embranquecido pela idade, que é atirado para dentro da taça, ou caldeirão.
Finalmente o detentor do Meridiano do Sol é também desmembrado e o visionário pode contemplar o Mistério.

Para alguns a visão é entendida como símbolo relacionado com o tempo, pela referencia ao meridiano do sol. O adepto, com o passar do tempo ( até à idade provecta ), foi subindo os sete degraus da Sabedoria.
Para um alquimista toda a lição de Zosimo é poética e simbólica, e respeita aos segredos do mundo e da alma. Cresce-se nascendo e morrendo várias vezes, sendo a imagem do homunculo (pequeno homem, noutros tratados surgindo como criança, e recordo a propósito os misteriosos "putti" de alguma pintura medieval e renascentista ) - uma imagem paralela à do feto que se desenvolve no útero e depois de nascer passará por diversas fases de crescimento até uma idade madura ou uma velhice de paixões sublimadas.

Nota-se no pensamento alquímico uma dimensão filosófica que provém desta ideia de um passado mais longínquo e misterioso conservado na memória pelo menos do sonho.

(a imagem é retirada de um folio do Splendor Solis, a devoração do negro do vermelho e do branco simbolizando a anulação das paixões, os desequilíbrios da consciência e da alma, para se atingir a perfeição da albedo, o branco renascido, sobreposto aos outros na matriz do ser ).

Tuesday, October 03, 2006

Lacan

Lacan a propósito da leitura dos sonhos:
" O que regressa como reprimido é o sinal apagado de algo que só adquire valor no futuro, através da sua realização simbólica".
O que se aplica ao sonho aplica-se ao poema, e a tantas outras formas de arte que nos levam "para o lado de lá", como diz Pessoa.
Os alquimistas não dizem outra coisa.